quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Último dos Homens


Não há nada e não o sei
e a ciência de tudo é impossível e a
ciência da ciência da impossibilidade de tudo
Já fiz tudo, já estive aqui, já li tudo!

Aquele que quer morrer
dança sobre os destroços de tudo.
Ó insolência da escrita! Lá vens tu, ó fa-
diga, ó lágrimas!

Difícil solidão (de cócoras) a do escriba,
atravessa o deserto às costas do melhor amigo.
Tem que se lembrar de tudo
pequenas frases, umas primeiro outras depois.


Manuel António Pina
Aquele Que Quer Morrer
1978, ed. A Rega do Jogo
fotografia de Hans Bellmer

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