sexta-feira, 29 de agosto de 2008
a propósito
o meu amigo k4 está de volta aos blogs. Depois do "Esse Obscuro Objecto do Desjo", é a vez do "IN-Flama", que já podem (E DEVEM.) visitar.
sítio lido IV
Estremeço.
No coração.
As letras vêm de lá
E da mão.
Padeço:
o eco – perco-o –
sai da garganta
e da distância.
Palavra é o que lembo
Ou o que meço?
Luiza Neto Jorge,
"Os Sítios Sitiados"
Plátano Edições, Colecção Sagitário, 1973
imagem: "São João" de Odilon Redon
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
antero
Falo como doente,
não entro nem quero entrar em questões;
mesmo que soubesse onde estava a razão,
mesmo que essa razão fosse completa, em todos os pontos,
o meu conselho seria sempre o mesmo: esquecer.
Antero de Quental, "Cartas" (primeira série)
.
.
O pior, no entanto, não era a consciência desses seres ausentes, nem da sua situação transitória, vivendo uma espécie de morte suspensa, o pior era a insónia e o não poder tapar os ouvidos ao barulho do vento nas frinchas e telhados, trazendo até ele gritos, soluços de ânsia, murmúrios, velhas vozes da sua infância, um choro perdido algures e que agora novamente lhe despertava esquecidos pesadelos.
Nuno Júdice, "Antero- Vila do Conde", 1979
edição &etc, esgotado
imagens: capa de "Antero-Vila do Conde", e retrato de Antero de Quental por Columbano
terça-feira, 26 de agosto de 2008
5 momentos de puro palco
Tori Amos, "Cruel". Como Pip em Provinssirock - Seinäjoki, na Finlândia, em 2007. Uma canção de "From The Choirgirl Hotel", de 1998, recuperada para um concerto da tour de American Doll Posse.
Bjork, "Oceania". Ao vivo na abertura dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. A capella, como introdução ao mal-amado Medulla, lançado logo depois, e condenado a não ser entendido por quase todos. No entanto, vale mesmo a pena.
The Gift, "Cube". Pensado ao pormenor, da decoração do palco às roupas. Sónia Tavares e restante banda, de Alcobaça para o mundo. Do dvd de "Fácil de Entender", qualquer faixa poderia aqui estar.
Marilyn Manson, "The Beautiful People". Nos prémios da MTV. O "Antichrist Superstar" no seu melhor, uma performance digna de chocar as pitas histéricas que esperavam a Britney nos VMA´s.
Madonna, "Confessions/ Live To Tell". Com o Vaticano contra, absolutamente indiferente. É a rainha da pop, crucificada na "Confessions Tour". A ver.
crónica com alguns meses
A manhã serve para arrumar a noite anterior. Dar-lhe um pontapé para um canto do quarto, deixá-la esquecida até mais ver. Há que correr entre o tomar banho, o vestir, o tomar o pequeno-almoço de pé, a olhar para fora da janela a ver sabe-se lá o quê, são coisas de que ninguém se lembra.
Vestir o casaco, arrumar o que se quer levar, sair e fechar a porta á chave. A rua é sempre cinzenta, não interessa em que parte do dia se está. Percorro-a a andar depressa, como se estivesse atrasado para o comboio, e estou atrasado, mas não é para o comboio. Por vezes tenho muita pena de não sair de casa com tempo suficiente para percorrer as ruas devagarinho, reparar nos prédios antigos com azulejos que já não se usam, reparar nas clarabóias, reparar nas portas altíssimas de madeira envernizada sucessivas vezes, grades pintadas e vidros atrás, ainda que raramente se veja uma pessoa em vez do vidro, a olhar cá para fora, como se tivesse saudades da vida.
Os carros fazem música quando aceleram, com mais pressa do que eu. Levantam poeiras várias, e deixam fumo cinzento evanescente atrás de si, como que a prolongar a sua presença. Quando o semáforo lhes mostra a luz vermelha rosnam furiosamente para quem atravessa a passadeira, como eu. Quando tenho que esperar no passeio, os olhos ficam-me presos na sombra dos carros e na sombra das pessoas, como se não me interessasse saber quem é, apenas me interessasse o movimento.
Estar no trabalho é um aborrecimento, é querer não estar no trabalho, é querer sair e atravessar de volta a estrada, voltar para casa, talvez para dormir de novo, talvez levantar do canto do quarto a noite anterior.
A hora de almoço é igualmente frustrante, ainda que seja tempo dito livre, serve essencialmente para voltar para de onde se veio.
Sair do trabalho, sim, é uma libertação. As ruas estão ainda mais cinzentas. Quando faz frio, por norma o ar é negro, e as fachadas são iluminadas pela luz dos candeeiros, cor-de-laranja ou branca. Sempre gostei dessas luzes, parecem ser um rasgão na realidade, um furo piedoso na escuridão.
Quando chego a casa, encontro-a dentro de um silêncio confortável, e de uma escuridão reconfortante. Acendo as luzes só para não tropeçar nas mesas, nas estantes, nos livros pousados pelo chão por falta de espaço. Por norma ouço música, ou fico a ler um pouco, ou as duas coisas.
Comer não é importante, é sobrevivência. Faz-se para não se ter fome, para não se morrer.
Depois do jantar, no tempo que resta até se ir dormir de novo, é provavelmente a melhor altura para, se houver razões para isso, ir buscar ao canto do quarto a noite anterior, ou, quem sabe, o dia de hoje. Em boa verdade, a única altura de mim para mim é antes de me deitar, quando estou á vontade para, se quiser, não fazer nada. Nada que não seja sentar-me ou deitar-me, e ficar a olhar para o tecto, quase a esquecer-me que tenho vida. Um pouco antes de me enrolar nos lençóis, e caminhar para uma noite da qual não me lembrarei, ou para mais uma insónia que me custe o dia seguinte, onde tudo se repete da mesma maneira, pois todos os dias são normais.
Vestir o casaco, arrumar o que se quer levar, sair e fechar a porta á chave. A rua é sempre cinzenta, não interessa em que parte do dia se está. Percorro-a a andar depressa, como se estivesse atrasado para o comboio, e estou atrasado, mas não é para o comboio. Por vezes tenho muita pena de não sair de casa com tempo suficiente para percorrer as ruas devagarinho, reparar nos prédios antigos com azulejos que já não se usam, reparar nas clarabóias, reparar nas portas altíssimas de madeira envernizada sucessivas vezes, grades pintadas e vidros atrás, ainda que raramente se veja uma pessoa em vez do vidro, a olhar cá para fora, como se tivesse saudades da vida.
Os carros fazem música quando aceleram, com mais pressa do que eu. Levantam poeiras várias, e deixam fumo cinzento evanescente atrás de si, como que a prolongar a sua presença. Quando o semáforo lhes mostra a luz vermelha rosnam furiosamente para quem atravessa a passadeira, como eu. Quando tenho que esperar no passeio, os olhos ficam-me presos na sombra dos carros e na sombra das pessoas, como se não me interessasse saber quem é, apenas me interessasse o movimento.
Estar no trabalho é um aborrecimento, é querer não estar no trabalho, é querer sair e atravessar de volta a estrada, voltar para casa, talvez para dormir de novo, talvez levantar do canto do quarto a noite anterior.
A hora de almoço é igualmente frustrante, ainda que seja tempo dito livre, serve essencialmente para voltar para de onde se veio.
Sair do trabalho, sim, é uma libertação. As ruas estão ainda mais cinzentas. Quando faz frio, por norma o ar é negro, e as fachadas são iluminadas pela luz dos candeeiros, cor-de-laranja ou branca. Sempre gostei dessas luzes, parecem ser um rasgão na realidade, um furo piedoso na escuridão.
Quando chego a casa, encontro-a dentro de um silêncio confortável, e de uma escuridão reconfortante. Acendo as luzes só para não tropeçar nas mesas, nas estantes, nos livros pousados pelo chão por falta de espaço. Por norma ouço música, ou fico a ler um pouco, ou as duas coisas.
Comer não é importante, é sobrevivência. Faz-se para não se ter fome, para não se morrer.
Depois do jantar, no tempo que resta até se ir dormir de novo, é provavelmente a melhor altura para, se houver razões para isso, ir buscar ao canto do quarto a noite anterior, ou, quem sabe, o dia de hoje. Em boa verdade, a única altura de mim para mim é antes de me deitar, quando estou á vontade para, se quiser, não fazer nada. Nada que não seja sentar-me ou deitar-me, e ficar a olhar para o tecto, quase a esquecer-me que tenho vida. Um pouco antes de me enrolar nos lençóis, e caminhar para uma noite da qual não me lembrarei, ou para mais uma insónia que me custe o dia seguinte, onde tudo se repete da mesma maneira, pois todos os dias são normais.
Porto, 12 de Maio de 2008
imagem: Alfred Stieglitz, 1915
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Sobre “A Casa do Incesto” de Anais Nin
Demorou cerca de um mês e meio a minha leitura de “A Casa do Incesto”.
Escrito em 1949, este conto gira em torno de Sabina, personagem que reaparecerá nos romances da escritora, por exemplo “Uma Espia na Casa do Amor”. Sabina é inspirada em June Miller, segunda mulher de Henry Miller, e que inspirou a este último a sua Mona, personagem de, entre outros, “Trópico de Câncer” e “Sexus”.
Esta enigmática mulher, corrupta e obscura em Miller, é, em Anais Nin uma heroína, autêntica beauty queen descrita e vivida com toda a beleza e sensibilidade.
E é precisamente nesta poesia que “A Casa do Incesto” perde: é excessivo, descrevendo até à exaustão os pormenores, poeticamente sim, mas também em demasia, retirando a possível segunda leitura que o leitor poderia fazer. No meio de tudo, a história é secundarizada, acabando eventualmente por se perder.
Famosa pelos seus diários, é num deles que podemos ler uma carta escrita por Henry Miller em que este afirma que a obra de Anais Nin é “mais profunda e mais bela do que nenhuma outra”. Profunda é, bela certamente. No entanto, é em demasia, e acaba por ser difícil de ler e de retirar alguma coisa dela.
Escrito em 1949, este conto gira em torno de Sabina, personagem que reaparecerá nos romances da escritora, por exemplo “Uma Espia na Casa do Amor”. Sabina é inspirada em June Miller, segunda mulher de Henry Miller, e que inspirou a este último a sua Mona, personagem de, entre outros, “Trópico de Câncer” e “Sexus”.
Esta enigmática mulher, corrupta e obscura em Miller, é, em Anais Nin uma heroína, autêntica beauty queen descrita e vivida com toda a beleza e sensibilidade.
E é precisamente nesta poesia que “A Casa do Incesto” perde: é excessivo, descrevendo até à exaustão os pormenores, poeticamente sim, mas também em demasia, retirando a possível segunda leitura que o leitor poderia fazer. No meio de tudo, a história é secundarizada, acabando eventualmente por se perder.
Famosa pelos seus diários, é num deles que podemos ler uma carta escrita por Henry Miller em que este afirma que a obra de Anais Nin é “mais profunda e mais bela do que nenhuma outra”. Profunda é, bela certamente. No entanto, é em demasia, e acaba por ser difícil de ler e de retirar alguma coisa dela.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
"perfeito em todo o crime"
Habitar dias expulsos, quase inerme,
inteiramente sustendo leveza e paixão, o linho
em noites azulíssimas.
E contudo pária, canto que escrevo e perfeito em todo o crime.
Olhar o corpo, a pedra no corpo, a rebentação no olhar,
lugar onde um só ser teria nome.
Ter lembrada a distância, o desejo no rosto imóvel,
escrita mediúnica de fim de tempo
eterno voo.
Helga Moreira
excerto de "Sangue, Versos e um Nome"
inéditos publicados na antologia "Amor Luxúria e Morte",
Mirto editora, 1987- esgotado
imagem: William Turner, "Os Pescadores no Mar"
10 boas canções pop
Nos anos 80, pop queria dizer Kate Bush e queria dizer David Bowie e queria dizer Valvet Underground. Hoje pop quer dizer "não ouçam". As evoluções naturais da pop dos anos 80 são agora música alternativa, e o termo pop usa-se para o tipo de música direccionado aos adolescentes mais típicos, sendo assim uma mescla de sons pastilha-elástica que têm em vista apenas o sucesso, e que se caracterizam pela falta de qualidade, associada a uma campanha em que interessa tudo, das mamas ao rabo, menos a música.
No entanto HÁ EXCEPÇÕES. Ficam aqui 10 canções em que a pop se revela menos má. Mtv áparte.
(Cliquem sobre o título para ouvir. As canções não foram escolhidas pelos videoclips, alguns dos quais vi agora pela primeira vez, e são terríveis.)1. MADONNA "To Have and Not To Hold"
Madonna. 50 aninhos acabados de fazer, e continua a ser o verdadeiro espírito da pop. Com excepção do seu álbum mais recente, nunca aderiu a modas e soube sempre como estar na crista da onda. A música lá vem, umas vezes melhor, outras pior. Em "Ray Of Light", há canções que valem mesmo a pena como "Frozen", "Drowned World/ Substitute For Love" ou "Ray Of Light". "To Have and Not To Hold" é um exemplo. Madonna com Craig Armstrong e Patrick Leonard= álbum bom.
2. TEXAS "Can´t Resist"
Com uma enorme influência da música house e downtempo, os Texas de Sharleen Spiteri não têm medo absolutamente nenhum do dançável e do que fica no ouvido. Em "The Redbook", surgem canções mais electróncias do que o costume, misturadas com travos de amargura ou de felicidade. No caso específico de "Can´t Resist" será a primeira.
3. ESTELLE "American Boy"
Contrariamente ao que se costuma fazer nesta pop com influencias de hip hop, Estelle tem, nesta música, um ritmo diferente do habitual, aliás, arrítmico, aliado a uma tonalidade vocal muito interessante.
4. CHRISTINA AGUILERA "Hurt"
De todas as princesas da pop, Christina Aguilera é a única que teve vários bons momentos na sua carreira. Isto, claro, apenas nos dois álbuns mais recentes, Stripped e Back to Basics (Os anteriores são para esquecer.). Poderia estar ali em cima "Fighter", "Cruz", "Soar", "Ain´t No Other Man" ou "Walk Away". "Hurt" fica por puxar particularmente pela voz da rapariga, que não cede.
5. THE CORRS "Long Night"
Com influências célticas. Claro. Nenhuma canção dos irmãos Corrs é má, mas esta é particularmente boa, e o violino, meu deus, o violino. Do álbum "Borrowed Heaven", belíssimo título.
6. ANASTACIA "Boom"
E mais uma questão de voz. Se estamos a falar de vozes potentes, a de Anastacia impõe-se inevitavelmente. Pontos de destaque "Seasons Change", "Paid My Dues", "Heavy On My Heart" e "Time". "Boom" serve também.
7. JEWEL "Intuition"
O pior momento de uma menina do rock é um bom momento pop. Qualquer uma do álbum"0304" poderia figurar aqui. Mas "Intuition" tem um vídeo mais giro.
8. NELLY FURTADO "Try"
Belíssima canção. Lamentavelmente, "Loose", terceiro álbum de Nelly Furtado consegue ser mais rasca do que "Whoa Nelly", o primeiro. O irmão do meio, "Folklore" é uma boa colecção de canções, das quais "Try" se revela a mais temperamental e sensível.
9. DIDO "My Lover´s Gone"
Voz perfeita, quente e suave, numa música definitivamente boa. Quase todas poderiam estar ali em cima. "My Lover´s Gone", no entanto, faz mais sentido (Para mim.) neste momento.
10. DELTA GOODREM "Innocent Eyes"
Ainda que se tenha tornado repetida posteriormente, Delta Goodrem tem no seu primeiro álbum "Innocent Eyes", um excelente exercício pop. Em vez de se preocupar em encontrar o ritmo certo para abanar o rabo da forma mais óbvia, vai ao piano buscar as suas baladas. Românticas e adolescentes, talvez, mas bem conseguidas, também.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
matthew barney
Provavelmente mais conhecido por ser marido de Bjork do que por ser o artista plástico que é, Matthew Barney não deixa de ser um artista de culto, com obra de explícita qualidade.
Barney considera-se primeiramente um escultor, e, avaliando os seus filmes, podemos falar de escultura e de instalação, filmadas como forma de as prender no tempo e de as fazer chegar a qualquer pessoa que, possivelmente, não teria outra forma de a elas chegar.
Com referências a variadíssimas culturas, em especial a japonesa no mais recente "Drawing Restraint 9", as performances de Barney colocam-nos perante seres e situações bizarros, que econtram sempre uma forma de penetrar o mundo real, a "nossa" realidade, e de a chocar com as imagens em que o grotesco e o belo se encontram.
Ficam alguns exemplos, retirados dos ciclos "Creamaster" e "Drawing Restraint 9".
algumas ideias
talvez o teu destino esteja para cumprir-se em breve, não perguntes, homem, não queiras saber, vive apenas o teu dia.
José Saramago, "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", 1991
...
...
em terra de cegos, a clarividência é um crime.
Natália Correia, "Não Percas a Rosa", 1978
...
...
A tarefa de morrer é única para cada um.
Isabel de Sá, "O Avesso do Rosto", 1991
...
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Can we blame nature
If she´s had enough of us?
Tori Amos, "Father´s Son", 2007
...
...
A vida
é livro
e o livro
não é livre.
Adília Lopes, "Clube da Poetisa Morta", 1997
...
...
existe um quadro preto em qualquer parte, quem sabe se no sótão do sótão ou na cave da cave, a afirmar que dois e dois não são quatro.
António Lobo Antunes, "Memória de Elefante", 1979
...
...
Sim, devemos lutar com imaginação, porque devemos saber guardar os nossos sonhos. Isto é, quem não tem força para resistir não tem o direito de vencer.
Lídia Jorge, "O Jardim Sem Limites", 1995
...
...
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
este coleccionismo
Foi em 1978, quatro anos depois de abrir, que a mítica editora &etc iniciou a colecção subterrâneo três. Advirá este nome, certamente, do facto da sede da editora se localizar no subterrâneo três de um edifício numa das ruas da baixa lisboeta. O que é certo é que a colecção existiu até 1989, começando com "O Corpo O Luxo A Obra" de Herberto Helder e terminando com "Código Evidente" de Dimíter Ángelov, e contando, no final, 42 obras publicadas.
Pela colecção passaram nomes tão sonantes como Isabel de Sá, António Ramos Rosa, Nuno Júdice, Helga Moreira, Eduarda Chiote, Jorge Fallorca, Regina Guimarães, Luís Miguel Nava ou Gastão Cruz.
Os livros são folhetos, com poucas páginas e poucos poemas. Poucos e bons. Seguem-se algumas capas, que demonstram o apuradíssimo sentido estético que complementa a qualidade dos textos.
Legenda:
"O Corpo O Luxo A Obra" Herberto Hélder 1978 (esgotado)
"Equizo Frenia" Isabel de Sá 1979 (esgotado)
"O Voo de Igitur Num Copo de Dados" Nuno Júdice 1981 (esgotado)
"Órgão de Luzes" Gastão Cruz 1981 (esgotado)
"A Inércia da Deserção" Luís Miguel Nava 1981 (esgotado)
"Altas Voam Pombas" Eduarda Chiote 1983
"Intimidade da Fala" Wanda Ramos 1983 (esgotado)
"Aromas" Helga Moreira 1985 (esgotado)
"Anelar, Mínimo" Regina Guimarães 1985
"Alpende" Jorge Fallorca 1988
"Código Evidente" Dimíter Angelov 1989 (esgotado)
a verdade
it´s so hard to love when
love was your great disappointment
.
.
.
.
.
1984 do álbum "Rattlesnakes"
ecos do simbolismo
Gostava de música, quando tocada num quarto
andar, à noite, entre poucos amigos e uma garrafa
de aguardente. Nunca lera Rimbaud: a literatura,
para ela, era um equívoco. Mas escrevia poemas; e neles,
entre citações e lugares comuns, inscrevia-se
algo da sua alma. Amei-a; não especificamente o ser
físico, o corpo, a pele, embora me lembre dos seus
lábios e, por vezes, das mãos. Mas havia um modo
de estar, uma inquietação, fragmentos de uma alegria
indefinida que, por fim, se transformava num silêncio
de desespero- tudo de acordo com a época,
penso. Desenhos obscuros em guardanapos de papel,
crises de misticismo sobrevivendo à tardia luz
do crepúsculo, livros de bolso, três ou quatro cafés por dia.
Nuno Júdice
"O Voo de Igitur Num Copo de Dados"
1981, edição &etc- esgotado
Imagem: "A Noite" de Ferdinand Hodler
sábado, 16 de agosto de 2008
o poema
Mas sente agora a minha crueldade
sem defesa,
porque to confesso e confesso em verdade
e com verdade: se de alguma coisa tive medo
foi do teu riso trémulo
e poroso como um
desmaio,
do recorte dos ombros,
da tua camisola verde- de um poema
de Byron.
E, sobretudo, sim, da tua grande, da tua imensa
tristeza.
E só por isso
me doeu o deserto que te (e me) arrastava; tantas as mágoas,
as afinidades,
as cumplicidades.
Porque nós somos únicos
e raros.
Juro.
excerto de "Únicos e Raros"
Eduarda Chiote, "O Meu Lugar à Mesa", edições Quasi, 2006
Imagem: Helena Almeida, "Dias Tranquilos", 1981
3 poemas
1.
As manhãs avançam incendiadas de ausência. Estremeço em ti, em mim.
Estar com os outros é muitas vezes não estar- é encontrar-me absolutamente só num espaço imenso de procura ou aridez. Passo pelos dias inteiramente estranha e nada me é por completo real. Pareço não ter qualquer ligação com o tempo.
2.
Acredito sobretudo na grande solidão.
Digo-te não saber exactamente que tipo de equilíbrio procuro. A noite forma-se agarrada ao desejo de tactear-te a boca, a geada de riso. De voz.
Muitos dias se acumulam à procura de um gesto decisivo. De um sonho.
3.
Tenho mais uma noite amarga para meu conforto.
Isabel de Sá, "Desejo Ou Asa Leve"
1982, Fenda Edições- esgotado
Imagem: Francis Bacon
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
rendo-me
a abertura dos Jogos Olímpicos de Beijing está absolutamente perfeita. por favor, tentem ver as repetições na tv ou no YouTube
smokes in the afternoon
Não devem levar isto demasiado a sério. Isto foi uma brincadeira em fotografia/ vídeo que fiz com a Ana Sofia Rafael em Novembro de 2007. São dez fotografias, além de um vídeo não publicado por motivos tecnicos de demorar muito tempo a carregar aqui. Poderei acrescentar que este pequeno “projecto” gastou vários cigarros e uma tarde com a luz apropriada.
gates of the country/ nan and brian in bed
April
Back in New York
The 31st floor
It seems somehow everything's changed
The kitchen too small
Plates on the wall
The sound of machinery
May
Where have you been?
Who were you running with?
Wasn´t he someone you used to call home?
Where is the ring?
Where is the boy who went travelling alone?
She is much better without me.
She walks through the gates of the country
Her hands at her side
And I smile as I watch her walk by
Somehow I see there are ships in her eyes
She is better off now
June
The curtain is shut
The patterns are cut
The maid who will wake you at dawn
Pulls out a chair
Pulls down your hair
It´s just like you wanted
July
What´s going on?
What are you running from?
Why are you sleeping alone on the floor?
Some people change
Others hang on till they can't anymore
She is much better without me
She walks through the gates of the country
Hands at her side
And I smile as I watch her walk by
Somehow I see there are ships in her eyes
She is better off now.
She is much better without me
She walks through the gates of the country
Hands in the air
And I smile as I watch her walk by
Somehow I see there are ships in her eyes yeah
She is much better now.
Gates Of The Country, por Paul Durham para os Black Lab (álbum: Your Body Above Me, 1997)
Nan and Brian in Bed, de Nan Goldin, 1983
sobre
Arte,
Fotografia,
Lyrics,
Musica
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
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