Só eu sei o choque que tive quando ouvi "0304", o quarto álbum de originais de Jewel, lançado no final de 2003, sob a produção de Lester Mendez (Shakira, p.e.). Todos sabemos que ninguém é perfeito, e Jewel nunca foi perfeita, nunca, desde o início, em 1994, mas também nunca fez nada de realmente mau. Mas no quarto álbum, abandalhou completamente as coisas, explorava bem a sua voz, e procurava novos registos, mas esses registos não lhe acentavam bem, e eram incongruentes com os três e muito bons álbuns anteriores. O lado pop de Jewel, o lado de "Intuition", de "Stand", de "Run 2 U", não estava, simplesmente, ao nível de composições tão grandiosas como "Down So Long", como "Foolish Games", como "I Won´t Walk Away", essas sim, perfeitas.
Explicações? Só encontro uma. Jewel é versátil, o que leva diferentes produtores a levá-la a adaptar-se a eles. Mas ao passo que Ben Keith, Patrick Leonard e Dan Huff, produtores respectivamente de "Pieces Of You" (1994), "Spirit" (1998) e "This Way" (2001) a levaram sempre por diferentes caminhos, mas sempre dentro do rock, Lester Mendez decidiu ser o mecenas de um projecto de a própria Jewel Kilcher define como "uma combinação de dance, urban e folk", e o resultado é fora de linha, e nada á altura, como já disse.
Mas, enfim, três anos volvidos, Jewel retorna aos estúdios, na companhia de Rob Cavallo, que, por muito que tenha estado envolvido em projectos tão vergonhosos como os Green Day ou os My Chemical Romance, era uma pessoa possível para aquilo que Jewel tinha que fazer: retornar ao rock, simples, brilhante, e suave, por vezes acústico, mas que era o seu estilo.
O resultado chega-nos ás mãos com o premonitório título de "Goodbye Alice In Wonderland", e não se pode deixar de respirar de alívio ao ouvi-lo. Afinal, Jewel não perdeu completamente a cabeça. Consegue, com o seu quinto álbum, uma abordagem pessoal, muito intimista, onde cada canção pertence a uma fase diferente da vida da senhora Kilcher.
Não deixa de haver refrões orelhudos que são herança directa de "0304", como acontece com "Drive To You" ou com "Again and Again", mas, pelo menos, são encorporados em canções claramente Jewel, e não Jewel-não-tarda-nada-Britney. São as canções simples, bonitas, melodiosas a que nos habituou desde sempre.
"Again and Again" é o primeiro single, uma escolha óbvia, por se tratar de um dos temas mais mainstream do álbum, ainda que, não deixando de ser uma razoável canção, não tenha genica para ultrapassar a energia de "Good Day", o tenebrismo de "Last Dance Rodeo" ou o poder de "Words Get In The Way".
Talvez a melhor canção seja mesmo "Stephenville TX".
Claro que há defeitos: por vezes, Jewel abusa das vocalizações inocentes e harmoniosas, acontece por exemplo no (meloso) refrão de "Again and Again", as letras não evitam, por vezes, commonplaces dispensáveis, e alguns refrões vêm estragar as canções, ou pelo menos retirar-lhes alguma qualidade, por serem demasiado acessíveis- again, "Again and Again".
Se tentarmos situar este álbum nos anteriores, este ficaria entre "Spirit" e "This Way". Falta-lhe uma atitude mais expedita para ser "This Way", mas tem mais complexidade do que "Spirit".
Enfim, nenhuma canção aqui pode ensombrar potências como "Barcelona", "Do You", "You Were Meant For Me" ou "Till We Run Out Of Road", para não dizer outras, mas não deixamos de ter aqui um regresso de Jewel a Jewel, e por isso, "Goodbye Alice In Wonderland" já vale a pena.
Esperemos que a menina bonita do Alasca não volte a perder a cabeça.
Veredicto Final_ 16/20
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