domingo, 1 de julho de 2007

Ana Moura: Para Além da Saudade

TRATADO DAS PAIXÕES DA ALMA





Ao terceiro álbum, Ana Moura cotinua a confirmar o que afirmava em "Guarda-me a Vida Na Mão" (2002) e "Aconteceu" (2003): que o seu nome é digno de estar entre as fadistas que realmente o são, isto numa fase em que toda a gente quer cantar fado. Não é o caso de Ana Moura. Veio para ficar, o fado está-lhe na alma, e quando assim é, vê-se.
Mas se em "Guarda-me a Vida Na Mão" o que víamos era simplesmente uma boa fadista, havia uma faixa que nos prometia uma fadista original: a versão de "Lavava no Rio Lavava" de Amália Rodrigues. Gravando a canção com a voz das mulheres lavando no rio como fundo instrumental, percebia-se que em Ana Moura havia algo de diferente.
"Aconteceu" confirmou um pouco as duas coisas, principalmente a nível das participações com que contava, mas é, agora, três anos depois do segundo registo, com este "Para Além da Saudade", que vemos a confirmação da fadista original.


Fausto Bordalo Dias escreve pela primeira vez para o reportório de outro artista, com "E Viemos Nascidos do Mar", Amélia Muge contribui com o "Fado da Procura", Patxi Andeon musica
Fernando Pessoa em "Vaga, No Azul Amplo Solta", e Tim Ties dos Rolling Stones participa compondo ou tocando, nos últimos dois temas, "Velho Anjo"(Que musicou.) e "A Sós Com A Noite" (Onde toca saxofone.). São estas participações improváveis que não vemos associadas a outros nomes. As escolhas de reportório são pouco previsíveis, mas sempre coerentes.
A produção fica, uma vez mais, a cargo de Jorge Fernando (Mariza- "Fado Em Mim") que já havia produzido os anteriores álbuns da fadista. Não indo muito além daquilo que já fez nesses álbuns, não deixa de tirar proveito dos potenciais da voz de Ana Moura e das canções escolhidas.
Entre as quinze canções que constituem "Para Além da Saudade", há que dar destaque a "A Voz Que Conta a Nossa História", da autoria de Jorge Fernando, momento de extrema simplicidade e beleza, que nos leva a viajar por uma espécie de noite de frio, de éter, de néon e de nevoeiro; "Primeira Vez", a letra de "Até ao Fim do Fim" é um ex-libris do álbum; o dueto com Patxi Andeon é obviamente um momento alto, em que o fado parece encontrar, sobre as palavras de Pessoa, terrenos baldios pertencentes ao flamenco (?) num tom melancólico e nostálgico; assim como o belíssimo "A Sós Com a Noite" onde vagueia o saxofone de Tim Ries.
Após uma única audição de "Para Além da Saudade", torna-se fácil perder todas as dúvidas em relação ás razões que levaram Ana Moura aos palcos dos EUA ou da Holanda, entre tantas outras. Um dos melhores discos de fado de 2007, senão de sempre.



Veredicto Final_ 17/20

Sem comentários: