IV
Dá-me a tua mão por cima das horas.
Quero-te conciso.
Adão depois do paraíso
errando mais nítido à distância
onde te exalto porque te demoras.
VI
Aumentámos a vida com palavras
água a correr num fundo tão vazio.
As vidas são histórias aumentadas.
Há que ser rio.
Passámos tanta vez naquela estrada
talvez a curva onde se ilude o mundo.
O amor é ser-se dono e não ter nada.
Mas pede tudo.
VIII
Eis-me sem explicações
crucificada em amor:
a boca do fruto e o sabor.
IX
Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficámos nas paredes do vento
a escorrer por tudo o que ele invade.
Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos a carne de um segredo.
Natália Correia
Poemas
1955, ed. autora
fotografia de Floria Sigismondi
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