Estranho fruto
o que amadurece entre as mãos
e a madrugada:
é uma ideia,
sempre a mesma ideia da terra
pressentida nos uivos dos animais
que tu aceitas
porque se move a pedra
e só o cão está atento
enquanto os marinheiros fumam
junto ao cais
parecem velhas histórias
de raparigas nuas
mas é o tempo
a vaguear na inquietude.
A eternidade é só a demência do homem
diante do império
que temivelmente repete
a continuidade
Por quem temem os animais?
pobres mensageiros sem palavra
em que primeiro a terra se ressente.
E ainda o marinheiro
passa a mão pelo pêlo húmido
do ar do cais
Com estas mesmas palavras
alguém dirá um dia
uma outra terra
a ideia
que acolheste nas mãos
e o tempo trabalhou
na tua ausência.
Rosa Alice Branco
Animais da Terra
ed. Limiar, Maio de 1988
Animais da Terra
ed. Limiar, Maio de 1988
imagem de Carla Gonçalves
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