segunda-feira, 15 de agosto de 2011

The Last Exorcism de Daniel Stamm

REPORTAGEM FOLEIRA

Quando, em 1971 William Friedkin adaptou ao cinema o romance "The Exorcist" de William Peter Blatty, duvido que ele pudesse prever que o seu filme seria atormentado por inúmeras sequelas, um pouco por toda a Europa e Estados Unidos; sendo, na verdade, algumas mais assumidas do que outras. Neste caso, não são sequelas como as que foram feitas para outros clássicos, como "Halloween" (1978) de John Carpenter ou "A Nightmare On Elm Street" (1984) de Wes Craven. São sequelas que apenas têm o mesmo assunto, funcionando na maioria das vezes como remakes adaptados e enviesados. O exemplo mais recente disto é "The Exorcism of Emily Rose", de 2005, realizado por Scott Derrickson.


Em 2010, chega-nos, com promessas de novidade, "The Last Exorcism", que se apresenta como um misto de horror com o género agora em voga do mockumentary.
A história que nos conta é a de um padre exorcista que perdeu a sua fé, Cotton Marcus (Patrick Fabian) e que aceita que seja feito sobre ele um documentário que, suposto, mostrará como os exorcismos são uma fantochada e que o efeito que surtem sobre os exorcizados não são mais que mera auto-sugestão, funcionando quase como um placebo.
Cotton é então chamado por Louis Sweetzer (Louis Herthum) à sua quinta, onde irá exorcizar a filha de Louis, Nell (Ashley Bell) que se encontra possuída por um demónio chamado Abalam, um dos servos mais fieis de Lucifer.
É assim que Cotton mostra para as câmaras a falsidade do exorcismo, assumindo com o maior dos cinismos uma atitude crente e convicta perante a família de Nell. Tudo isto é filmado com clara falta de imaginação, chegando ao ponto de se tornar aborrecido. Daniel Stamm parece completamente incapaz de tornar o assunto interessante pois, mesmo sendo verdade que o que nos mostra é, no fundo, um teatro, há que não esquecer que este filme se apresenta como um filme de horror. A questão é que não só não causa medo, como não causa nada em nós. O aspecto pretensamente documental poderia ter sido aproveitado de outra maneira, como vimos acontecer com "The Blair Witch Project" (1999) de Eduardo Sanchéz e Daniel Myrick. No entanto, isto não parece mais que um documentário muito chato sobre um assunto que é também ele tratado de maneira -talvez acidental -a parecer chato.
Para o final do filme fica a suposta reviravolta, que também não nos causa nada, já que acontece quase por acidente, havendo, na verdade, nada no filme que nos indique que essa reviravolta poderá acontecer. O resultado é que ficamos com a impressão de que, algures, Stamm terá percebido como fez um filme aborrecido e tentou dar a volta à última da hora, sem realmente o conseguir.


De resto, o filme está cheio de maus actores, de cenários pobres e pouco imaginativos quando temos a certeza de que Stamm terá visto a película original de Friedkin.
O que é estranho é que, em conceito, este filme até tinha probabilidades de resultar bem. Ele poderia ser uma forma irónica de olhar a questão do exorcismo, mas também o próprio cinema de terror, já que os procedimentos que Cotton encena funcionam um pouco como efeitos especiais; e está também presente a questão da sugestão e do invisível, que conta muito num filme de terror, claro. No entanto, Huck Botko e Andre Gurland, os argumentistas, levam esse conceito para um caminho que faz lembrar uma reportagem foleira da TVI; e Stamm mostra-se completamente impotente no que toca a fazer desse argumento sair um bom filme, como muitas vezes acontece (Ainda há dias falei desta questão a propósito de "Insidious" de James Wan.).
Falta muita coisa a "The Last Exorcism", mas, acima de tudo, falta interesse, e isso é algo que não deveria faltar a filme nenhum. Senão o resultado é este...


Sem comentários: