sábado, 18 de fevereiro de 2012

O Triunfo da Morte



Por entre tristes ramos
nos vamos, mesmo assim, encaminhando.
Há tigres e leões que se extraviam
em cidades cobertas por opróbio
e mortos são por balas nas ruelas.
Os faunos sobrevivem mendigando,
prédios progridem e devastam a raça,
monopólios acolhem multidões
envenenem ao abrigo da capa
e desviam os olhos.
Os doadores do mundo
ajoelham junto ao círio,
aos pés têm chacinas açaimadas.
Dame Mhahut, em tempos anteriores,
mandou atear fogo
a míseros reunidos na igreja.
Prolongava a sua clemência
abatendo a ave da pobreza.
Os inúmeros pobres actuais
que têm carro mas não têm casa,
se por casa tomarmos
o que mãos da terra perfizeram,
milhões de deserdados
(Santa Luzia lhes proteja os olhos)
recebem por tv princípios homicidas,
chorrilhos de palavras, aluviões, discursos,
não destroem Gomorra.
Os pobres já não são o sal da Terra
porque não há terra
recua harmonia e ardem florestas
e vão os madeireiros conhecer afinal
Palma de Maiorca e Torre de Molinos
ver já realizado o sonho combustível
em suas vidas néscias.
As Parcas reunidas revolvem os destroços,
o mar inaltera imagens da gaivota
que desconhece ao planá-lo cerce
quanto o abandonou a vívida torrente,
essencial fonte, imputrescível fronte
a trança despregando na corrida.

Fátima Maldonado
A Urna no Deserto
1989, ed. Frenesi
fotografia de Arthur Tress

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