FILMES MAUS, CONCEITOS MAUS, TUDO MAU
Ao contrário da maioria das pessoas, eu tenho uma relação de amor-ódio com as férias, que pende mais para o ódio do que para o amor. Isto porque um dia-a-dia parcimonioso facilmente se vira contra nós. No ano passado, em dois dias vi inteira a série de 'Hellraiser' (Na altura eram oito filmes, agora há nove.), numa altura em que estava aborrecido para lá da conta. Ontem à noite, para manter a tradição, vi 'Saw 3D'.
Eu fui ver o 'Saw' original de James Wan em 2004, na estreia, ou seja, ainda antes do filme se ter tornado uma espécie de fenómeno, que, aliás, foi suficiente para que os produtores fizessem nada mais que seis sequelas até 2010. Destas sequelas, eu sei que vi algumas, mas não sei nem quantas nem quais. E sinceramente, não me interessa. A meu ver, o original de James Wan valia pela realização muito mais do que pelo argumento, ou pelos conceitos que, aliás, passavam essencialmente por um moralismo populista que se perdoava num filme.
Mas em sete filmes, a conversa é outra.
'Saw 3D' apresenta-nos Bobby (Sean Patrick Flanerey), um sobrevivente de uma das armadilhas do Jigsaw. Bobby acaba de lançar um livro sobre a sua experiência, e torna-se uma espécie de representante dos sobreviventes, com os quais vais organizando grupoterapias, onde fala com um power-positive-thinking irritantemente americano, espécie de mistura de Oprah e Dr. Phil.
No entanto, enquanto Jill (Betsy Russell), a viúva do Jigsaw, se entrega à polícia para escapar de Mark Hoffman (Costas Mandylor), Bobby é raptado e acorda numa armadilha. Aí percebemos que toda a sua história tinha sido inventada e que, com excepção da sua mulher, todos os que estavam à sua volta sabiam que ele não tinha sobrevivido a armadilha nenhuma, e encontram-se naquele labritinto, que consistirá no jogo de Bobby.
A história não interessa nada. O argumento de Patrick Melton e Marcus Dunstan é meramente um pretexto, nem sequer muito bom, para mais uma hora e meia de armadilhas cruéis, de demonstrações de psicopatia e de coisas que, pura e simplesmente, são mais irritantes do que assustadoras ou impactantes. A verdade é que 'Saw' quase não tinha assunto para um filme, quanto mais para seis!
O que nesta saga se apresenta é um conjunto de pessoas que pensa ser capaz de fazer julgamentos sobre outras pessoas, decidindo quem desperdiça a vida e quem a aproveita, pondo à prova aqueles que a desperdiçam através destes joguinhos psicóticos. A ideia é pura e simplesmente asquerosa, mas não faltou quem visse em 'Saw' uma lição, uma lição que nos ensina a valorizar a vida. Não é nada disso, na verdade. Toda a saga de 'Saw' é a história de um velho azedo e amargurado porque tem cancro e vai morrer e que decide vingar-se fingindo que é deus e julgando quem merece ou não merece viver. Se todo este conceito é lamentável, o velho canceroso ainda se faz rodear de uma série de gente que admira a psicose dele, prevendo-se que também não terão o cérebro em muito bom estado. E esta é a história de seis filmes.
'Saw 3D' é exactamente o mesmo, e tem o descaramento de nem sequer estar bem realizado (Não que outros que eu tenha visto estivessem.).
O que acontece é que as pessoas continuam a ver estes filmes e eu não percebo porquê. Enquanto cinema, são fracos, repetitivos, áridos e amadores. Enquanto conceito, são uma distorção de qualquer noção de justiça humana que qualquer pessoa deveria ter vergonha de subscrever. A esses palermas que sentem algum tipo de admiração por este tipo de ideologiais, digo só isto: TODOS NÓS MERECEMOS MORRER! Quem raio é um velho amargurado para decidir se eu mereço ou não mereço morrer?
Aparentemente este é o último filme desta saga. Esperemos mesmo que sim. Quanto mais depressa estes filmes forem esquecidos, melhor.
Sem comentários:
Enviar um comentário