Quando o cinema comercial de apropriou do cinema de horror e o transformou num produto de consumo e entertenimento para adolescentes estúpidos (Sim, sim, eu vou bater nesta tecla até ao fim.), grande parte das esperanças dos verdadeiros fãs do horror foi depositada no cinema independente. A perspectiva do low-budget inviabilizava grandes efeitos especiais, mas acontecia muitas vezes que o facto dos FX não serem opção obrigava os realizadores a serem criativos e a pensarem noutras formas de provocar medo. Brad Anderson safou-se muitíssimo bem com 'Session 9' (2002), e Victor Salva, com um orçamento não particularmente generoso fez também um bom trabalho com o primeiro 'Jeepers Creepers' (2001). O próprio Bill Paxton, na sua estreia como realizador, fez o seu low-budget 'Frailty' (2002) que também não resultou nada mal. E isto são só tres exemplos da última década.
É deste ano mesmo o filme de estreia de Greg Daniel, um filme de horror low-budget cuja imagem de cartaz faria prever alguma coisa de interessante. Os créditos iniciais, bem como as primeiras sequências de imagens também são promissoras. Estamos numa casa numa província rural dos Estados Unidos, e as imagens são detalhes de restos de comida, moscas, tudo perfeitamente asqueroso, enquanto uma mulher grita imenso sem ser vista e duas crianças estão sentadas praticamente imóveis.
Quando 'Carl' avança temporalmente, encontramos a família que vive naquela casa e é impossível não nos parecer baseado um pouco na história de Ed Gein. A mãe (Peg Thon), católica fervorosa, vive com um filho atrasado mental, Carl (Matt Cornwell). Com eles encontra-se ainda uma mulher acorrentada, a namorada de Carl, que ele, por achar não ser afinal a mulher certa, decide matar.
Ao mesmo tempo, Mike (Robert Pralgo) e Lisa (Cheri Chrsitian) encontram-se numas férias românticas naquela comunidade. Depois de os ver numa loja, Carl apaixona-se por Lisa e rapta-a.
Lisa passa a viver presa na casa da estranha família que, percebemos, tem como tradição que as mulheres ali vivam assim, presas e forçadas a fazer vida de família. Se Daniel, enquanto realizador e argumentista, pretendeu mostrar uma dinâmica familiar psicótica e arrepiante, à qual não é estranha, como se disse, a história de Ed Gein, a verdade é que o filme em si esgota as qualidades naquelas imagens iniciais que, formando um arranque de força, acabam por ser traídas por um filme em que nada resulta.
Nada resulta porque, no que toca à realização, só realmente as cenas do passado parecem ter verdadeiramente força, por aquilo que retratam de uma quietude arrepiante e nitidamente doentia. No resto, este filme está feito com todos os clichés de filmes deste género (Relembremos os óbvios 'The Texas Chainsaw Massacre' de Tobe Hooper de 1974 e 'The Hills Have Eyes' de Wes Craven de 1977.) e, por isso, é incapaz de causar qualquer emoção mais forte. A única excepção é a máscara de renda que a mãe de Carl lhe fez e que ele usa apenas nalgumas ocasiões. Mas precisamente isto serve de mote para explicar outro dos graves problemas de 'Carl': as pontas soltas. De facto, grande parte do filme é passado a dar pistas sobre aquela família e sobre a trama que eles representam: a máscara, a filha desaparecida e a própria tradição que seguem. No entanto, chegando ao final, percebemos que todo o filme carece de explicações. E não estamos a falar de carecer de explicações como 'Zodiac' (2009) de David Fincher, em que a identidade do assassino permanecia desconhecida porque, na realidade, nunca se soube quem foi ou foram o autor ou os autores dos crimes. Em 'Carl' faltam todas as informações em que o filme consistiria. Não ficamos a saber absolutamente nada sobre aquela família, sobre as razões dos seus destinos nem sobre o próprio ritual que a máscara parece representar. Ou seja, aqui as coisas limitam-se a acontecer sem rima nem razão, o que nos faz reparar ainda mais naquilo que este filme tem de mau. O argumento apresenta, portanto, sérias fragilidades e o próprio texto dos diálogos é mau.
O que parece é que 'Carl' resultaria muito melhor se fosse uma curta-metragem com as cenas do passado. Em tudo o resto, o filme é pura e simplesmente falho. O que aqui temos, essencialmente, é mais um filme sobre uma família doente da América profunda, retratada com recursos a todos os lugares-comuns e que ainda tem o descaramento de nos apresentar um argumento com aspectos promissores que, depois, é incapaz de resolver.
Podem as esperanças do fãs de horror estar depositadas no cinema independente, mas não vão ser filmes destes que vão dar-nos satisfação alguma. Temos pena.
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