sexta-feira, 22 de junho de 2012
sábado, 9 de junho de 2012
The Chant: A Healing Place
O PESADO RENASCIMENTO
Talvez o sentimento que mais facilmente se associa ao rock seja a tristeza. Parece ser predominante. Mas um olhar atento sobre o que muitas bandas têm feito mostra-nos que não é obrigatoriamente a tristeza que encontramos na música rock. Bem pelo contrário, se olharmos para o percurso de algumas bandas, encontraremos canções de uma leveza e de um brilho extremos, como acontece, por exemplo, com algumas canções dos Anathema, dos Pearl Jam, dos Muse, dos Placebo, entre tantos outros. O que acontece é que, provavelmente, o rock é ainda uma expressão profunda e, daí, pesada dos sentimentos todos e assim é pesado e pesadamente honesto mesmo ao expressar felicidade, e o que distingue do pop é precisamente o facto do pop, quer fale de tristeza, quer fale de alegria, se expressar com facilitismo e superficialidade.
Servem estas considerações de introdução a algumas notas sobre o segundo álbum dos The Chant, editado há cerca de uma semana. Em 2010, a banda finlandesa lançava o seu segundo álbum, 'This is the World We Know', o primeiro a dar-lhes alguma visibilidade, ainda que discreta, na Europa. Era um álbum onde o encontro do rock com o metal dava canções intensas que, em muito, surpreendiam. Surpreendiam porque, apenas ao segundo álbum, os The Chant conseguiam impressionantes resultados dessa fusão que, parecendo fácil, é na verdade difícil, e que outras bandas conseguiram demorando mais tempo, como acontece um pouco com o Tool e, a partir deles, os A Perfect Circle, ou então os Anathema. 'This is the World We Know' não era, portanto, uma promessa, era já confirmação.
'A Healing Place' chega-nos dois anos depois de 'This is the World we Know' e o título, só por si, já anuncia a tendência para uma espécie de renascimento sobre os cenários negros que encontrávamos no álbum anterior, e também em 'Ghostlines' (2008), o primeiro.
A capa apresenta-nos uma espécie de paisagem interior, em que o indivíduo surge como uma silheta negra e sozinha num quadro algo apocalítico. E, ao ouvirmos o álbum, percebemos que há um sentido muito forte na imagem da capa. De certa forma, estas canções são o ruír daqueles cenários do primeiro álbum, e apresenta-nos o indivíduo no lugar onde se cura, onde renasce, para a reconstrução do (seu) mundo.
O álbum começa com os seguintes versos:
My eyes
adjusting
so that I can
see the outlines
ou seja, o indivíduo começa a ver os contornos, os contornos talvez das ruínas, que lhe permitirão recomeçar. Assim sendo, 'A Healing Place' parece traçar uma sequência com 'This is the World we Know'. Não se trata propriamente de fazer um álbum que seja o oposto do anterior, mas de continuá-lo.
A primeira canção, Outlines, mostra-nos que, mais uma vez, é entre o rock e o metal que os The Chant se situam, e é também um exemplo de como é difícil fundir os dois géneros. Mas os The Chant conseguem aqui uma canção absolutamente perfeita, uma espécie de expressão da angústia, que a letra consegue dizer sem recorrer àquilo que de mais vulgar se escreve sobre.
Spectral Light é uma canção mais complexa, constituida por duas secções, começando com uma guitarra dedilhada a que se juntam, depois, a bateria e os arranjos, uma vez mais subtis e melódicos, e a voz de Ilpo Paasela e o piano de Mari Jaamback. É uma canção cheia de momentos negros, que logo são rematados por outros momentos mais sinfónicos, onde, mais ainda, se nota o perfeccionismo nos arranjos, pensados milimetricamente para criar uma canção equilibrada e densa.
Outra das melhores canções do álbum é Riverbed, onde o ritmo lento e a voz por vezes sussurrada abrem caminho ao refrão emotivo e pesado, resultando uma vez mais numa canção equilibrada e fluida, que cria uma espécie de paisagem fria onde, ainda assim, nos sentimos perfeitamente aconchegados, e talvez a letra, de Jussi Hämäläinen, contribua para isso.
The Black Corner será talvez a canção que mais nos alude a 'This is The World we Know'. Ainda que musicalmente nos pareça realmente refém do álbum anterior, a letra é significativa para toda a génese de 'A Healing Place' já que é precisamente a esta canção que o álbum vem buscar o seu título. A linha de baixo confere um certo peso à canção e isto explicará certamente aquela ideia de que falei no início deste texto: é que efectivamente esse peso é uma forma de expressão, da expressão, neste caso, do desejo de recomeçar, de nos curarmos. E precisamente a partir daí começa The Ocean Speaks, outra das canções mais pesadas do álbum, mas também das que mais vai ao encontro da ideia do título. É uma música cheia de pausas e recomeços, de interrupções e repetições e, na sua barroca estrutura, acaba por resultar muitíssimo bem.
Segue-se Distant Drums, onde o discreto piano guia o ritmo da música, também ela cheia de pausas cujos renascimentos são pesados e marcados. Nesta canção fica muito clara a qualidade vocal de Ilpo Paasela que, a uma audição atenta pode parecer uma voz vulgar dentro do que, por norma, são os vocalistas de rock, mas que, na verdade, tem uma forte expressividade e uma capacidade invulgar de se moldar às canções que canta e, se compararmos o que ouvimos dele em Outlines e o que ouvimos, por exemplo, aqui, veremos como, de facto, há uma versatilidade nele que só favorece os The Chant.
My Kin é uma canção lenta, que nos mantém num certo impasse, mas é sem dúvida uma canção forte, que nos mostra precisamente que uma canção leve pode ser tão pesada quanto uma mais barulhente.
O mesmo, mais ou menos, acontece com Regret, a canção que fecha o álbum. É outra canção constituida por secções, indo do mais leve e sussurrado, até ao explosivo e gritado. E, fechando o ciclo, de certa forma parece reiniciar o próprio álbum, mantendo-nos um pouco fechados nele.
De facto, não tenho dúvidas de que 'A Healing Place' é um grande álbum rock, mas há que admitir que é tudo menos fácil. Para começar, as canções são densas e profundas e exigem atenção a ser ouvidas e, por outro lado, o álbum é executado pelas opções sempre mais difíceis. Se os The Chant fossem mais imediatistas, um álbum com este título seria um álbum cheio de canções melodiosas e quase acústicas, brilhantes e simples, mas não é o caso. Os The Chant mostram-nos como renascer e recomeçar são actos violentos, como a libertação é difícil e não raras vezes angustiante, ao ponto em que nos dá vontade de desistir. Mas o facto é que quando se ouve 'A Healing Place' com atenção, percebemos como tudo nele é sincero e quase visceral, como as composições sombrias são caminhos para a libertação e como este álbum fala directamente ao coração daquele que se sente preso mas não se sente morto, ou pelo menos não tão morto que se disponha a viver o resto da vida no lugar negro em que está. Ao contrário dos álbuns anteriores, este é inteiramente escrito e composto pelo guitarrista Jussi Hämäläinen que não deixa dúvidas quanto á sua qualidade poética e musical, e a partir das melodias e das letras, Ilpo Paasela demonstra uma vez mais a sua garra enquanto vocalista, conseguindo cantar de uma forma em que, mesmo que não houvesse letra, conseguiríamos perceber quais os sentimentos que são cantados. Momentos como Oultines, Riverbed ou Regret são, nesse aspecto, verdadeiramente impagáveis, e 'A Healing Place' é um sucessor mais que digno a um álbum como 'This is the World We Know', sentindo-se apenas falta de uma maior presença do piano, que caracterizava muito esse álbum anterior.
Esta é uma banda discreta e, no geral, menos conhecida do que deveria ser, mesmo dentro dos circuitos mais fechados do rock. Mas se 'A Healing Place' nos prova alguma coisa, é que definitivamente lhes deveria ser dada mais atenção, pois não é tão comum como se pense que uma banda tenha a coragem de se despir desta forma, e de nos despir a nós, que a ouvimos.
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sexta-feira, 8 de junho de 2012
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Páramo
Na varanda sem paz eu vejo o mar
mas já não vejo junto desses olhos
que viam o mar amordaçar-me.
A varanda, todavia, ainda traz
na ondulação, nas maresias
a ilusão de um silêncio
em que tu pretendias: aqui,
nesta lei tão dura, senti
que nada mais terei do que ser de ti.
A varanda continua a sua conjura,
eu continuo o desgaste do mar
só que noutra jura a tua vida dura
e até o mar te deixou de esperar.
O vário vento que vem e que voa
sobre argolas com vasos de gerânios
que tombam vagarosos e rosas
sobre ruas ruidosas de Lisboa
toca ao de leve no copo por que bebo
esquecido e sozinho ali
onde dantes vinhas com o maior apego
ouvir ao fim da tarde eu olhar para ti.
Ao alto dessas ruas que Lisboa já não tem
havia um andar quase arruinado
com o estilhaço, a cólera, o fermento
de quem se resignava também
a que não valesse a pena nada.
No vagar desse desmoronamento
essa ruína foi tua e foi minha,
o seu reboco de cal, a pele refém,
a cisterna petrificada.
Amávamo-nos entre eléctricos que passavam
do nascer do dia até ao nascer do dia.
Não há nada que se peça que nos seja dado
mesmo quando gritamos alto por perdão.
Merecemos tudo o que ficou fragmentado
no pensamento que não sabe inebriar-se
quando os sentidos perderam o condão.
Essas ruas de Lisboa que findaram
como findaram os dedos que prenderam
o bordão de ternura
que tantos outros nos cortaram.
Tal qual o prédio caímos
e apenas o pó
desenha entre o que nem persigo
um resto que sabe que está só
porque nenhuma solidão vem ter consigo.
Joaquim Manuel Magalhães
Alta Noite em Alta Fraga
2001, ed. Relógio d'Água
pintura de Domingos Pinho
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quarta-feira, 6 de junho de 2012
Hellraiser: Revelations de Victor Garcia
PARTIR PARA O INSULTO
Não há dúvida que vivemos na era do capital. Que
se perdeu a vontade de fazer arte quando se pega numa câmara de filmar, já não
é novidade nenhuma. Que as grandes produtoras sugam o sangue dos grandes
clássicos, também já sabemos, e que no caso do cinema de horror isso é ainda
mais notório, é impossível não saber. Eis um breve levantamento:
The Texas Chainsaw Massacre de Tobe
Hooper, 1974 - 2 sequelas, 1 remake
Halloween de John Carpenter, 1978 -7 sequelas, 1 remake e 1
sequela do remake
Friday the 13th de Sean S. Cunningham, 1980 - 10 sequelas, 1 remake
A Nightmare on Elm Street de Wes Craven, 1983 -7
sequelas, 1 remake
Hellraiser de Clive
Barker, 1987 -8 sequelas
Como se vê, 'Hellraiser' é de todos os exemplos,
o mais recente, mas o segundo com mais sequelas. O que é ainda mais grave é
que, a partir de 'Hellraiser: Inferno' (2000), o quinto filme,
nenhum dos argumentos foi escrito originalmente como sequela do filme de Clive
Barker, o imaginário desse filme foi apenas inserido num contexto que,
inicialmente, em nada lhe dizia respeito. E se no caso de 'Hellraiser: Inferno'
isso não era particularmente notório, nos restantes era difícil não o perceber
e o resultado acabava sempre por ser ou incompreensível (Como em 'Hellraiser:
Deader' (2005).) ou pura e simplesmente insultuoso (Em 'Hellraiser:
Hellseeker' (2002) e 'Hellraiser: Hellworld'
(2005).).
E se o absoluto fiasco que foi o oitavo filme
deixou os admiradores da série bastante indignados, aparentemente não chegou
para que o pessoal da Dimension Films, que neste momento é detentora dos
direitos sobre 'Hellraiser', desistisse, finalmente, de tentar continuar um
grande filme que nunca deveria ter tido sequela nenhuma. Isto porque falar do
mero oportunismo que caracterizou a saga a partir do seu quinto filme é não
referir que as anteriores sequelas, ainda que escritas especificamente para
este imaginário, também estavam longe de ser assinaláveis.
Acontece que há já alguns anos que se anda a
anunciar um remake para 'Hellraiser' o que, duma perspectiva mercantilista, tem
todo o sentido, porque é outro dos clássicos com inúmeras sequelas, mas o único
que não tem remake. O projecto já por várias vezes teve e perdeu realizadores e
argumentistas, e o prazo para a estreia vai sendo adiado constantemente. Ora,
quem tenha visto o que recentemente se fez com 'Hellraiser' há-de achar que até
é bom que esse remake não apareça. Mas há um facto que fica negligenciado: a
Dimension tem que ir utilizando o nome 'Hellraiser' para não perder os direitos
de obra e, com eles, o direito de fazer o remake.
Assim sendo, em 2011, sendo uma vez mais adiada a
produção do remake, a Dimension dá por si perigosamente perto de perder os
direitos de obra e toma uma decisão: entregam a um infeliz realizador que
precisa de trabalhar para viver um argumentozinho qualquer, dão-lhe uma semana
e meia para realizar um filme e, em tempo-record, surge uma nova sequela de
'Hellraiser', a oitava.
Se tivesse havido algum suspense antes do filme
estar pronto, certamente os fãs teriam ficado contentes por saber que, pela
primeira vez desde 1996, a sequela de 'Hellraiser' foi, efectivamente, escrita
como tal, ao invés da técnica de inserir o imaginário num argumento qualquer.
De facto, 'Hellraiser:
Revelations' apresenta-nos um argumento que, sem dúvida, foi
escrito para esta saga. Mas, independentemente de todas as cambiantes, a
verdade é uma: as qualidades deste filme esgotam-se nesse facto -e apenas no
facto, uma vez que o argumento propriamente dito não é uma boa notícia.
O fantasma do remake passa por aqui. Em muitos
dos momentos de 'Hellraiser: Revelations' chega a tornar-se pouco claro se
estamos perante uma sequela, se perante um remake inusitado. Vejamos a
história: Steven (Nick Eversman) e Nico (Jay Gillespie)
são dois amigos no final da adolescência que decidem fugir da sua vida de
pequenos-burgueses para o México, em busca de mulheres e alcóol. Os dois
desaparecem e a família de Steven consegue receber apenas uma mochila com
alguns recurdos da viagem final, que incluem uma máquina de filmar com algumas
gravações e a caixa-puzzle que conhecemos como Configuração do Lamento.
As famílias dos dois reunem-se frequentemente,
mas nunca falam deles. A única que parece ter vontade de o fazer é Emma (Tracey
Fairaway), irmã de Steven e namorada de Nico, que se sente indignada
com o silêncio em volta deles, principalmente tendo em conta que a sua mãe (Devon
Sorvari) vê obcessivamente as gravações da máquina de filmar, mas não
deixa a filha vê-las.
Num desses jantares, Emma tem um freak-out
e decide exigir dos seus pais e dos pais de Nico também presentes que se fale
sobre eles. Este é o momento em que nos preparamos para a hora-da-coincidência:
precisamente durante esse mesmo jantar, Steven aparece misteriosamente no
jardim, completamente desorientado e com uma conversa fragmentada em que fala
de Cenobites.
E, depois da hora-da-coincidência, temos que nos
preparar para a hora-da-estupidez: Emma vai buscar um dicionário e lê uma
definição de Cenobite. Ela LÊ uma definição de Cenobite, por amador que isto
nos possa parecer! E, como se isto não fosse suficiente, a definição que ela lê
nada tem que ver com os Cenobites de 'Hellraiser', ou seja, além de
amadoramente estúpido, este momento é inconsequente.
A chegada de Steven dá-nos mais pormenores sobre
a visita ao México e, com eles, surge a hora-do-dejá-vu: eles chegaram ao
México e, num bar, enquanto engatavam prostitutas, encontraram um vagabundo que
lhes mostrou a Configuração do Lamento. Quando Nico tentou comprá-la, o
vagabundo deu-lha, dizendo-lhe que sempre lhe havia pertencido, ou seja,
exactamente a mesma ideia que víamos no primeiro Hellraiser.
Daí para a frente, tudo é muito semelhante ao
original de Clive Barker: Nico é levado pelos Cenobites, regressa, Steven
angaria algumas prostitutas para lhe restituir um corpo. A única diferença
surge quando Nico pede a Steven que arranje um homem para que ele lhe possa
ficar com a pele e Steven, já atolado por sentimentos de culpa, se recusa a
fazê-lo.
Como percebemos depois, Nico decidiu então matar
Steven e usar-lhe a pele e é portanto ele quem regressa, na pele do amigo.
Enquanto tudo isto, a Configuração do Lamento vai
sendo aberta e fechada sem consequências morosas e Pinhead, que pela primeira
vez Doug Bradley se recusou a incarnar, neste caso portanto
representado por Stephen Smith Collins, parece estar
descansadinho no seu inferno a fazer esgares supostamente assustadores e a
preparar um novo Pinhead. É verdade: UM NOVO PINHEAD.
Além destas maravilhas que já descrevi, o
argumento de Gary Tunnicliffe ainda nos apresenta outras
subtilezas que tais, como um beijo incestuoso que não tem qualquer
consequência, ou o facto de na verdade Steven e Nico terem fugido para o México
porque descobriram que a mãe de um era amante do pai do outro, ou ainda as explicações
que Nico-na-pele-de-Steven dá sobre as razões da fuga, que parecem retiradas do
diário de um adolescente revoltado com a normalidade da sua vida. Neste último
caso não é que eu não concorde, mas acho que as coisas poderiam ser feitas com
um pouco mais de classe. O próprio título do filme promete revelações, mas não
as encontramos em lugar nenhum. Só as há como as que há em qualquer filme: as
que dizem respeito ao filme em questão. Sobre os anteriores, sobre este
universo, não há qualquer revelação e o título perde completamente o sentido.
Já vimos que imaturidade e falta de bom-senso não
faltam ao argumento de 'Hellraiser: Revelations'. Falta agora falar da
realização. Sinceramente, eu tenho pena de Víctor Garcia. Como
qualquer pessoa, Garcia precisa de comer e, como tal, precisa de dinheiro. E eu
só lamento que as produtoras continuem a aproveitar-se desta situação para
angariar realizadores e entregar-lhes filmes sem lhes dar a hipótese de
realizarem um trabalho de qualidade. Aqui, nem sequer está em questão se o
filme tem mais ou menos qualidade. O facto é que não havia, pura e
simplesmente, hipótese alguma de 'Hellraiser: Revelations' ficar bem feito. Com
um tempo de produção de 12 dias, não é possível que se faça um filme de jeito.
Garcia parece várias vezes tentar, consegue um ou outro plano mais
interessante, mas, no geral, não consegue dar ao argumento previsível e falho
uma roupagem que precisamente compense essas falhas. Tudo aqui nos parece
adolescente e superficial, um pouco à imagem dos dois protagonistas deste
filme. Garcia tenta jogar com a luz e com os elementos visuais, mas nada é
credível. A perda de Doug Bradley como actor para Pinhead também é assinalável,
porque o seu rosto era muito específico, mas não é só o rosto que não é o mesmo.
Os próprios pregos, ao serem grandes demais, parecem estar prestes a cair, e o
rosto de Pinhead acaba por parecer mais uma máscara do que a cara de um
Cenobite. Os próprios actores em pouco favorecem o filme. Três deles são de
maior importância: Tracey Faiaraway como menina revoltada de luto acaba por não
parecer mais que uma menina histérica e balofa, Devon Sorvari como mãe e esposa
enganada envereda pelos clichés da mulher frígida/doméstica exemplar que vemos
em qualquer filme de domingo à tarde, e Nick Eversman até se esforça, mas os
diálogos que lhe cabem enquanto Nico-na-pele-de-Steven são tão maus que não há
expressividade vocal ou corporal que o salve.
'Hellraiser: Revelations' estava, portanto,
condenado ainda antes de ter sido começado. E o que a Dimension não parece
perceber é que filmes destes não vão propriamente seduzir ninguém para ver o
remake, quando e se esse remake realmente se fizer.
É que nos anteriores, tudo começava a ser
francamente mau. Mas em 'Hellraiser: Revelations', já não estamos a falar de um
mau filme: estamos a falar de partir para o insulto. O insulto a toda a gente:
a Clive Barker e aos admiradores da saga e a qualquer pessoa que, mesmo não
tendo nenhum dos outros filmes, tropece neste. É um insulto para qualquer um, na
verdade.
Poéme I
les jours brefs et les nuits longues,
le fier été vient à grand pas
qui de tristesse nous libère:
voici la saison nouvelle
les noisetiers font des chatons:
il n'est signe plus fidèle
_Ay, vale, vale millies_
Vous tous qui, ce printemps,
_si dixero, non satis est_
voulez de l'amour goûter le bonheur!
Les âmes fières, en tout assaut
qui por Amour elles affrontent,
auront pensée droite et pure:
«C'est ici qui victoire m'attend:
je veux gagner, que Dieu me donne
ce qui sied au seul Amour:
si tel est son bon plaisir,
le désastre est mon honneur.»
_Ay, vale, vale millies_
Vous tous qui pour aimer l'Amour,
_si dixero, non satis est_
d'un coeur patient, tentez l'aventure!
Pauvre femme, que farai-je?
Haïrai-je la fortune?
Ah! que j'ai regret de vivre!
je ne puis aimer ni laisser d'aimer.
Aventure et fortune de même
me sont cruelles: abandonnée
de moi-même et de tout être!
C'est injure à la nature!
_Ay, vale, vale millies_
Amis, laisser-vous attendrir
_si dixero, non satis est_
sur celle qu'Amour fait ainsi pleurer!
Hélas! je fus fière de l'Amour aussitôt
que je l'entendis nommer,
et je me fiai à sa libre puissance:
c'est de quoi tous me condamnent
amis ou étrangers, jeunes ou vieux,
que je servais de toutes mes forces,
bonne envers eux toujours,
appelant sur eux toute faveur d'Amour.
_Ay, vale, vale millies_
Amis, n'épargnez nul éffort,
_si dixero, non satis est_
si dur à vos yeux paraisse mon sort.
Ah! pauvrette, je ne puis me donner
la vie, non plus que la mort!
Ah! doux Seigneur, pourquoi faut-il
que ces gents me veulent ruiner?
Qu'ils vous laissent donc le soin
de me frapper pour mes fautes:
vous me fairez bonne justice,
et pour eux-mêmes ils n'auront nul dommage.
_Ay, valle, valle millies_
Ce n'est pas l'amour que je vous témoignez, mais la haine,
_si dixero, non satis est_
vous qui ne laissez pas le Seigneur agir.
Tout qu'ils se penchent, indiscrets, sur mon âme,
qui d'entre eux peut aimer l'Amour?
Mieux vaudrait por eux suivre le chemin libre,
où l'on apprend à vous connaître.
Ils prétendent vous aider en ma conduite,
ce dont, certes, il n'est pas besoin:
vous savez frapper ou absoudre
et nous mettre à l'epreuve de la claire vérité.
_Ay, vale, vale millies_
Amis, prenez le parti de Dieu,
_si dixero, non satis est_
qu'il rende justice ou qu'il tasse grâce!
Ah! Salomon sagement nous conseille
de ne point scruter les secrets
qui dépassent nos forces,
et de ne pas nous risquer
à recherche trop haute
pour nos débites atteintes
mais de laisser le bel Amour
nous lier ou nos rendre la liberté.
_Ay, vale, vale millies_
Vous qui, jusq'au sécret de cer amour,
_si dixero, non satis est_
d'un nouveau degré, montez chaque jour.
Les pensées de l'homme sont petites,
la puissance de Dieu les passe infiniment.
L'espirit divin seul est sage:
ne rendons qu'à lui cette louange,
et laissons-le porter sentence
de vindicte ou de pardon!
Il n'est oeuvre se lointaine
qu'elle ne paraisse devant ses yeux.
_Ay, vale, vale millies_
Âmes livreés toutes à l'amour
_si dixero, non satis est_
qui sauvez en tout plaire à son régard!
Que Dieu nous donne le sens nouveau
d'un amour plus libre et plus noble:
qu'en lui, notre vie renouvelée,
reçoive toute bénédiction;
que le goût nouveau donne vie nouvelle,
comme l'amour peut le donner dans sa pire fraîcheur,
l'amour est puissante et nouvelle récompense
de ceux dont la vie se renouvelle pour lui seul.
_Ay, vale, vale millies_
Vous qui nouvellement désirez connaître,
_si dixero, non satis est_
au printemps nouveau, le nouvel amour.
Hadewijch de Antuérpia
trad. de J.-B. Porion
Écrits Mystiques des Béguines
2ª edição, 2008, Point, col. Sagesses
pintura de Paulo Damião
sobre
Arte,
Hadewijch de Antuérpia,
Paulo Damião,
pintura,
poemas,
Poesia
sexta-feira, 1 de junho de 2012
[As mães são outra coisa]
As mães são outra coisa
outra massa outra farinha
peneirada como quem semeia.
E de qualquer terra nasce o fruto
já maduro e elas teimam
que não está pronto para a colheita:
-não está e pronto
outra massa outra farinha
peneirada como quem semeia.
E de qualquer terra nasce o fruto
já maduro e elas teimam
que não está pronto para a colheita:
-não está e pronto
Rosa Alice Branco
Concerto ao Vivo
2012, ed. &etc
colagem de João Rios
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