quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Direito de Resposta



Com as mãos fechadas
se constrói a nossa única
verdade: o amor desencontrado


Apertamos as mãos suadas
uma contra a outra
para as molharmos
nas mãos reinventadas


e vamos no frio do Inverno
e nos seus gumes
ao encontro um do outro
e somos só os desencontros


Nas roupas já suadas descobrimos
a fúria de viver e os mil perfumes
do fundo destas mágoas
e a verdade passa a ser


o modo como calamos e fugimos
das palavras e dos gestos   Já sabemos
que nada pode mais acontecer
só o gosto da pele em que existimos

António Carlos Cortez
À Flor da Pele
2007, ed. Casa do Sul
fotografia de Slava Mogutin

1 comentário:

Graça Martins disse...

Muito interessante e secreto. Gostei.
Fiquei curiosa de mais poemas do Cortez...