Seremos como a vela arrancada do mastro,
entregue aos vendavais, numa inútil procura.
Atravessaremos os mares sem conhecer a paz
da âncora no porto, submersos no nosso próprio ímpeto.
Estáticos horizontes contemplarão o voo
que jamais tocará o fogo das estrelas.
Dir-nos-ão as nuvens, mostrando-nos o arado:
«Descemos para tornar o solo fértil.»
Seremos um delírio girando eternamente.
Passaremos sedentos à beira do infinito,
ávidos de luz e loucos de voar;
e cobertos do pó que sobe dos caminhos,
repassados de orvalho até à alma,
seremos os peregrinos desta aventura eterna.
Félix Cucurull
trad. de António de Macedo e Carlos de Oliveira
Vida Terrena
1966, ed. Ulisseia
gravura de Giséle Célan-Lestrange
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