segunda-feira, 15 de novembro de 2010

É Breve o Dia (fragmento)


As nossas armas contemplam. Propagam-se na difusão do ar. Instantâneas, encontram o diamante irrefrangível- a uma explosão estática.
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No fulgor de uma lágrima, à beira... a rosa, uma, única, única- identifica-me.

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É breve o dia no quarto. Não na montanha nem no atalho. É longo o esforço, inenarrável o cansaço. No cume, no fundo, na planura, a mão que liga quarto e montanha, o sono do cavador, o sonho da palavra.

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Aproximamo-nos, instáveis- é a viveza do ar, o redemoinho breve e claro dos seixos, a palavra que surge viva na tranquilidade das ramagens.

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Eis a secura. É um homem que caminha. Da sua oficina, na surpresa de um crepúsculo. O princípio de uma liberdade breve- a noite. As estrelas estranhas.

António Ramos Rosa
Sobre o Rosto da Terra
1961, colecção Pedras Brancas
pintura de Pablo Picasso

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