sábado, 6 de novembro de 2010

Dollhouse

Há uns anos atrás, teria eu oito anos ou coisa assim, e havia uma série de TV que era um absoluto must (Lamento mas não há expressão mais adequada.). Era a "Buffy, a Caçadora de Vampiros" de Joss Whedon, e não havia nada mais entusiasmante e arrepiante do que ver a Sarah Michelle Gellar a matar vampiros loucos.
"Buffy" tornou-se realmente série de culto, ainda que aquele calafrio de antigamente tenha acabado por volta da mesma altura em que a nossa idade passa a ter dois dígitos.
Depois de "Firefly", que sinceramente me passou ao lado, Joss Whedon regressa à televisão com nova série.


Chama-se "Dollhouse" e uma sensualíssima Eliza Dushku nos spots publicitários da série engana bastante. Não porque na série ela não esteja sensualíssima, mas porque "Dollhouse" é bastante mais do que isso. Não é, parece-me uma premissa que se explique facilmente, mas tentarei:

Esta é a história de uma empresa chamada Dollhouse, cujo serviço oferecido é a criação de uma pessoa perfeita. Perfeita para outra pessoa, o cliente. No seu estado doll, os activos que se voluntariam estão perfeitamente limpos de memória e consciência, vivem numa espécie de estado acriançado em que se limitam a passear por um spa- a este estado se chama a Tábula Rasa. Depois, de acordo com as requisições de um cliente, um ou uma das dolls é impressa com determinada personalidade. Personalidade completa, com memória e ideias e características muitíssimo específicas.
O génio cientista por trás desta operação é Topher Brink (Fran Kranz), um rapaz de vinte e poucos anos que literalmente brinca com todas estas questões. Encarregue de orientar, administrar e proteger a organização está Adelle deWitt (Olivia Williams), a carismática e britânica directora da Dollhouse de L.A..
Echo (Eliza Dushku) é uma das dolls, a mais requisitada. Além dela, ao longo da série, encontramos ainda Victor (Enver Gjokaj), Sierra (Dichen Lachman) e November (Miracle Laurie), cada um deles requisitado para os mais incríveis "compromissos".

Cépticos em relação ao serviço oferecido pela Dollhouse estão Boyd Langton (Harry Lennix) e Paul Ballard (Timoh Penikett). E ao passo que o primeiro, apesar das suas hesitações é empregado da Dollhouse- como segurança de Echo- o segundo é um agente falhado do FBI a quem é delegado o caso Dollhouse, que parece fantasioso a mais para ser um caso verídico.
E se Ballard parece realmente convicto de que existe uma Dollhouse, é quando recebe informações sobre uma rapariga desaparecida- Caroline Farrell, que é a própria Echo- que a sua convicção se transforma em obsessão.
Tratar-se-á de uma rapariga saída da Faculdade que foi apanhada enquanto tentava filmar uma empresa- a Rossum Corporation que financia o projecto Dollhouse- que fazia testes dos seus químicos em animais. Para eliminar o registo criminal, voluntaria-se como doll ou Activo.
Nos primeiros episódios, vamos sabendo também da história de Alpha: ele teria sido também um Activo muito requisitado mas algo correra mal no eliminar de alguma das suas personalidades, tendo-se originado um compósito. Assim sendo, trinta e seis personalidades completas foram impressas ao mesmo tempo no seu cérebro, o que o levou a matar vários Activos, atacar vários funcionários da Dollhouse, até por fim desaparecer sem deixar rasto.
A maioria dos episódios centram-se nos vários contratos que requisitam Echo, que passa por ser amante, assassina, negociante de resgates, segurança, etc.
No entanto, o interesse maior da série não tem nada que ver com os trabalhos propriamente ditos. "Dollhouse" coloca várias questões que interessa pensar: a primeira é evidentemente a da ética ou falta dela nesta empresa. Boyd Langton demonstra várias vezes a sua desaprovação em relação ao serviço que a Dollhouse presta, com o argumento lógico de que, em primeiro lugar, nada daquilo que os Activos fazem não é realmente verdade e que, para todos os efeitos, se trata de uma usurpação extrema.
Por outro lado, Topher garante que o implante das personalidades pré-concebidas é justamente a garantia de que tudo o que um Activo faz corresponde à mais verdadeira pureza: a separação do corpo e da mente é ou não significativa, se ainda que o corpo não tenha o historial, a personalidade nele colocada o tem? E mais ainda, coloca-se a questão do tempo: ou seja, mesmo que os actos destas pessoas sejam apagados ao fim de alguns dias, fará isso com que, enquanto esses actos aconteciam, fossem menos reais? E Topher tem ainda o argumento de que o próprio conceito de ética e de moral é, por si só, uma programação: algo de pré-definido.
Por fim, há a evidente questão do uso e do eventual perigo da ciência: porque, como ouvimos do agente Ballard, tudo o que a ciência faz tem como propósito essencial a manipulação e a artificialização do ser humano. Isso é pura vontade de poder e de controlo, ou uma questão que depende de pouco mais que um determinado conceito de ética?
A série parece colocar ambas as hipóteses mas a resposta dada pelos dois epitáfios é seriamente alarmante.
Eu recomendo seriamente que se veja "Dollhouse", mas acima de tudo, que se pense sobre o que se vê.




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