sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Harry Potter and The Deadly Hallows (Part 1) de David Yates

BEST FOR LAST

O entusiasmo excessivo de quando Harry Potter surgiu, primeiro em livro, depois em filme, perdeu-se bastante para mim de há uns anos a esta parte. De facto, deixei-me um pouco disso, o que não significa que tenha deixado totalmente de me interessar. Prova disso é que hoje, um pouco por acaso e graças à velocidade de pensamento da minha amiga Chris, dei por mim na sessão das três e meia do Cinema Londres, ainda por cima no dia da estreia, algo que há seguramente anos não me acontecia.

Concretamente, o presente "Harry Potter e os Talismãs da Morte" é a primeira de duas partes do derradeiro capítulo desta saga (A segunda parte tem estreia prevista para o verão de 2011.).
Quando sabemos que se trata de uma série de filmes cujo inicial estreou em 2001, é inevitável pensar naqueles que o precedem, desde o longínquo "Harry Potter e a Pedra Filosofal" de Chris Columbus.
A falha que me parece mais evidente em todos os filmes prende-se com a autonomia dos filmes, ou seja, do seu valor enquanto objecto em si. J.K. Rowling criou um universo original cheio de especificidades, de pequenos e determinantes detalhes, que lhe conferem uma força espantosa. E os filmes, ao adaptar tal universo, correm o risco de não
serem capazes de avançar o "deslumbramento" pelos livros. Tem acontecido isso um pouco com todos os filmes, que atravessam uma aguda paixão pelo que mostram, mas não se assumem como entidades propriamente ditas.
O caso deste "Os Talismãs da Morte", no entanto, apresenta-se-nos diferente. David Yates, que realiza assim o seu terceiro filme para a saga Harry Potter consegue aqui realmente um filme, em vez de uma mera adaptação.
Trata-se de uma fase complicada do enredo, com situações-limite para feiticeiros e para muggles, uma vez que Lord Voldemort (Ralph Fiennes) se apoderou de Hogwar
ts e do Ministério da Magia, assistindo-se a uma selecção de raças de clara inspiração hitleriana e a resistência, liderada por Harry (Daniel Radcliffe), Hermione Granger (Emma Watson) e Ron Weasley (Rupert Grint) depara-se com toda a sorte de dificuldades quer relativas ao momento presente, de lutas, perseguições e complicados esquemas; quer relativas às descobertas sobre as histórias que construirão a sua batalha, nomeadamente as de Albus Dumbledore, falecido em "The Half-Blood Prince".



Um enredo desta natureza é sempre perigoso. E, sendo que todos os filmes de Harry Potter- incluindo este- são dotados de uma teatralidade quase excessiva, mais perigoso se torna. Perigoso porque facilmente o filme resultante poderia tornar-se inusitado e de carácter realmente falso. Se J.K. Rowling tem mestria de escrita suficiente para fazer com que os seus enredos alucinantes pareçam bem assentes na terra, a verdade é que ainda está por aparecer o filme em que tamanha naturalidade é atingida. Ora, se assim foi em momentos mais pacíficos desta história, mais o é nesta fase limite dela.
Mas a verdade é que David Yates consegue, além da já referida autonomia, uma considerável verosimilhança neste filme.
Cheio de planos interessantes e invulgares, fazendo uma exploração muito criativa das possibilidades abertas pela escritora e através de cenários que sabem converter essa estética do excesso para um estilo barroco, a verdade é que este filme tem pernas para andar.
E anda. Anda, ao ponto de, no final, ficarmos realmente expectantes quanto à continuação.


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