quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

My Dream de Wang Honghai

A NIGHTMARE ON FANTASPORTO

O título do filme é “My Dream”, mas sobre ele, na maioria das cenas, só se pode falar de pesadelo.
“My Dream” não tem premissa. É uma sequência de performances musicais, vocais ou de dança levadas a cabo por deficientes (Cegos, surdos, paralíticos…).
A primeira sequência, em que, numa coreografia, um grupo de surdos interpreta a história de Buda deixa-nos maravilhados. É um delírio estético, uma explosão visual, e, definitivamente, um momento que todos gostaríamos de relembrar até ao mais ínfimo detalhe.
O problema chega logo a seguir. Durante as filmagens do ensaio para aquela peça, vemos legendas que nos dizem que todo o ser humano tem direito a uma vida digna, a ser feliz, a amar… todos esses moralismos feitos que aprendemos e repetimos, por vezes mais por hábito do que por convicção.
Vai acontecendo isto em todas as cenas do filme. As performances são belíssimas, dotadas de uma concepção visual brutal, mas as legendas vão arruinando o filme.
Momentos de referência pela positiva são, claro, a história de Buda, e “A Alma do Pavão” coreografia espectacularmente assumida por uma surda.
Pela negativa, há também que realçar os momentos de canto. Sendo o filme chinês, garanto que o mais inteligente seria não o legendarem. As letras vão buscar as frases aos referidos moralismos, e, como se tal afronta não fosse suficiente, o realizador filma-as como se se tratasse de uma versão chinesa do Festival da Eurovisão da Canção. Em relação precisamente á realização devo dizer que não é nada de especial. Nas performances não vai para além do esperado, nos making of atingem um ou outro plano mais interessante, mas é raro.
Não quero que se leia aqui que descrimino os deficientes ou algo do género. O que eu quero dizer é que nos primeiros momentos, é-nos dada a impressão de que se tratará de um filme disposto a mostrar-nos o que eles conseguem fazer e de, através das suas performances nos mostrar que, efectivamente, as deficiências de que sofrem não influenciam tanto assim o potencial que tenham para a arte. Em vez deste caminho, Wang Honghai escolhe ir pelo moralismo repetido, que só torna o filme mais previsível e enfadonho, e que acaba por transmitir de uma forma vulgaríssima aquilo que as imagens expressariam de uma forma mais insólita, eficaz, e certamente o filme seria melhor.

Veredicto: 10/20

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