quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Isabel de Sá: The Love Box



A poucos dias do final da exposição, falo de “The Love Box” de Isabel de Sá que, além de artista plástica é também poetisa, já referida recentemente nos posts do Camel & Coca-Cola.
Mas quem pensa na poesia de Isabel de Sá leva algum tempo a acreditar que é também ela a autora de peças de pintura como “Folhas” ou, uma vez que são frutos de uma pintura aparentemente espontânea e explosiva mais do que racional e perfeccionista, como é a poesia.
É obvio que nada daquilo que a artista terá feito até á data é feito ao acaso. Em termos de pensamento, portanto, será errado dizer que a poesia e as artes plásticas em Isabel de Sá, nascem de formas opostas. Do que se fala é do resultado final. E ao passo que na escrita tudo é pormenorizado, pensado, calculado, a maior parte dos seus trabalhos como artista plástica resultam em imagens explosivas, de carácter impulsivo e de uma beleza que mistura a agressividade com a inocência.
Mas “O Rosto do Mundo” de 2005, já parecia dar sinais de fuga a toda essa explosão aparentemente irracional. Assim, estas pinturas/colagens, fundiam o estilo habitual de Isabel de Sá com uma composição mais pensada.
“The Love Box”, um muitos dos seus componentes, já se aproxima mais de um perfeccionismo calculado, e revela-se, então, um trabalho insólito no percurso da artista de Esmoriz.
E esta aproximação ao resultado final que observamos no seu trabalho como escritora é na realidade muito coerente com a génese do trabalho.
Este é o abrir da gaveta do artista/escritor, a revelação dos seus instrumentos de trabalho, ou seja, o que temos, nestas 39 peças, é uma junção do universo da pintura com o universo da escrita. Isabel de Sá insere em caixas, telas ou placas de madeira objectos do seu quotidiano, essencialmente do(s) seu(s) trabalhos. Desde livros a lápis de cor, pincéis, CDs, a outros mais intimistas como isqueiros, berlindes, bonecos, espelhos, e até desenhos em que formas humanas se inserem em formas de fechaduras. Estes elementos surgem dispostos de uma forma organizada, mas com alterações (Como pinceladas rápidas, ou presos por pregos.) que além de reforçarem a presença da artista como pintora, criam uma segunda linguagem plástica que transveste os objectos, criando quase uma representação dele sobre ele próprio, resultando assim nalgo mais caótico do que á primeira vista poderia parecer-nos.



Um outro elemento assume-se como crucial: a cor. Numa das caixas surge um coração vermelho atado por fios torcidos pretos. Ao lado, um coração preto é atado por fios torcidos vermelhos. Esta dualidade emotiva marca possivelmente o elemento autobiográfico e pessoal de Isabel de Sá aquando do desenvolvimento destas peças. De resto, os corações marcam presença em muitas das peças, assim como outros elementos em que as cores caóticas e cada cor nos remetem para o amor que o título da exposição nos promete.
E amor será, digo eu, um dos sentimentos que quem quer que veja esta exposição sentirá pelas suas peças. Falo por mim, que o senti, digo sem exagero.
A não perder, na Galeria Artes Solar Sto. António, na Rua do Rosário, até meados de Fevereiro.

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