terça-feira, 18 de março de 2008

História de Uma Desculturização

ou Porque é Que La Féria Nunca Devia ter Ficado com o Rivoli




É um espaço arquitectonicamente bom, muito agradável, bem situado, e melhor que tudo, pertence aos moradores do Porto. Era isto o Rivoli, até há cerca de um ano.

Depois, surge a notícia: o Rivoli será privatizado. Lá se vai o Auditório Municipal. De facto, privatizar o Rivoli tornaria a história de que pertencia aos moradores do Porto uma ficção. Mas, entregue á pessoa certa, nao havia razões para deixar de ser um espaço cultural e um dos locais obrigatórios de passagem no Porto.

No entanto, Rui Rio não deu atenção a esta última parte, e fala-se de entregar o Rivoli a Filipe La Féria. Contra tudo e contra todos, La Feria conseguiu mesmo ficar com a sala.
Depois deste tempo todo, necessário para avaliar o comportamento de La Féria, digo-vos o que acho.

Acho que Filipe La Feria, se não é a pessoa mais anti-cultural em Portugal, tem que estar no Top 3.

A cultura tem um príncipio básico, e julgo que isto é conhecimento comum: diversidade. A cultura constroi-se com a música, o teatro, o cinema, o bailado, as artes plásticas, a literatura, etc. Mas, para La Feria, ficar com o Rivoli não foi ficar com um espaço cultural, foi alugar uma casa. E, desde então, tudo o que passa pelo Rivoli são as peças de La Feria, desde Jesus Cristo Superstar até á Música no Coração e ao Principezinho.

Acabaram-se os concertos, as exposições, enfim, acabou-se tudo o que não seja de La Feria. Pode ser teatro, mas não é cultura, é auto-promoção.Eu próprio não cosigo descrever o nó na garganta com que fico quando passo junto ao Rivoli e vejo tanta gente amontoada para ir assistir a uma peça desse sujeito. Da mesma forma, também não sei descrever a sensação de vitória que tive quando, no Fatasporto via muito mais gente do que para assistir a qualquer peça de La Feria, mas não iam ver a peça de La Feria.

Mas mesmo no Fantas, esse sujeito teve que fazer das suas: recusou-se a tirar as garrafais letras, a estúpida foto gigante da actriz de Musica no Coração com os braços abertos e uma expressão completamente palerma, assim como as estúpidas estelas com as cabeças das crianças do musical na entrada. Tudo isto, para ser sincero, deu-me uma enorme vontade de trepar as paredes e arrancar aquelas promoções megalómanas e despropositadas a uma pessoa muito inchada e pouco dotada.
No sentido oposto, ou seja, exemplo de um excelente trabalho, foi Paulo Brandão, a quem foi entregue o Theatro Circo de Braga. Devo dizer que considero o cartaz do Theatro Circo senão o melhor, um dos melhores do país. Prima pela diversidade, e pela selectividade cultural.

Em compensação, de La Feria, só tenho a dizer que espero que saia o mais rapidamente possível da direcção do Rivoli. A sala pertence aos habitantes do Porto, mas, mais importante ainda, pertence á cultura, e está a ser privado disso por uma pessoa com um ego enorme e infundado. Quem viu o musical de Amália só pode ter ficado escandalizado...

2 comentários:

Anónimo disse...

Ao que consta, Brandão será o novo director artístico da Casa da Música do Porto, uma vez que Pedro sairá em 2009. Uma perda para Braga, a ser verdade. Parabéns Porto, parabéns Belmiro.

Supermassive Black-Hole disse...

A Casa da Música é também uma bela treta, em termos de diversidade não vale nada. Só a clássica e o jazz é que vão á sala grande. Dá impressão que os outros músicos não são dignos dela.