sábado, 28 de julho de 2012

Fora de época

Por alguma razão, desde miúdo, tive sempre uma certa dificuldade em ouvir aquilo que estava na moda. Tenho agora 22 anos, o que significa que atravessei a febre do hip-hop quando o Eminem e o 50 Cent estiveram na moda; atravessei as modas passageiras do Summer Jam com o Kevin Lyttle e o Denzel (Não sei bem se era assim que se escrevia, mas era qualquer coisa assim.); aquele ano em que uma banda chamada Ozone tinha uma canção que toda a gente cantava numa língua que não me lembro qual era; os megassucessos de kizombas e de raggaton e é preciso não esquecer os Adiafa que chegaram a primeiro lugar no top nacional com As Meninas da Ribeira do Sado (Sim, Portugal, eu lembro-me...) e também não esquecer o imperdoável caso DZRT (Sim, Portugal, eu também me lembro...) e outros casos originados ou impulsionados pelos Morangos com Açúcar, esse culto da superficialidade e da estupidez.
Mas, enfim, de todas as modas, mais infelizes ou menos, que me passaram ao lado ao longo de 22 anos, devo dizer que houve, para mim, duas mais ou menos excepções. Digo mais ou menos excepções porque não creio que sejam excepções exactamente. Houve dois casos em que, quando o cantor que tinha estado na moda já tinha sido votado ao esquecimento em detrimento de outro qualquer, eu fui ouvir e até encontrei algumas coisas de interesse. O primeiro caso prende-se com uma só canção.



Corria o ano de 1997 quando a primeira canção de Natalie Imbruglia, Torn, fez do álbum 'Left of the Middle' um grande sucesso. Toda a gente cantava aquilo. Na altura, eu tinha sete anos e todos os meus colegas de turma, num tempo em que ainda não havia inglês na escola primária, cantarolavam aquela melodia com sons inventados que, imagino eu, deviam assemelhar-se brevemente à letra propriamente dita da canção de Imbruglia. Depois passou. Acontece frequentemente e não devemos surpreender-nos com isso. Afinal de contas, os Morangos com Açucar continuam a passar na TV e as pessoas continuam a ver, o que nos denuncia que o nosso país de cristianos ronaldos e mourinhos aceita com felicidade tudo aquilo que cultive o supérfulo e o oco. Assim sendo, querer conhecer e seguir a obra de um músico ou de um cantor é raro. Natalie teve por cá um grande sucesso e depois foi-se, apesar de ter continuado a fazer música e de ter continuado interessante, dentro do estilo adult-pop que é mais ou menos o dela. Um dia, aos quinze ou dezasseis anos, estava eu num café do Porto com uns amigos, e a televisão, sintonizada na VH1 estava a passar esse primeiro videoclip de miss Imbruglia. E, de repente, pareceu-me interessante. Bem sei que para a maioria daqueles que, como os meus coleguinhas de turma, cantarolavam Torn na altura, essa canção e a sua intérprete não são mais do que vagas reminiscências que por nada se recuperam. Mas o facto é que, repentinamente, me surpreendeu a frescura da canção e também a sua letra, perfeitamente simples, e no entanto escrita à margem do que de mais vulgar se escreve sobre separações amorosas que, sejamos sinceros, são assunto de quase toda a música pop. Não é que tenha investigado a fundo o percurso de Natalie, mas guardei a canção e, tendo ouvido vagamente mais algumas, tenho que ser sincero e dizer que, depois de sucessos como o de Lady Gaga, tenho que ser frontal: Natalie Imbruglia está a léguas de distância de ser do pior que a música pop já nos deu e, bem pelo contrário, se compararmos uma e outra, percebemos que a música de Natalie tem uma profundidade que Gaga nem consegue sequer sonhar ter.


Outro caso semelhante é o de Lara Fabian. Apesar de ter uma carreira com a mesma idade que eu, Lara conquistou o Brasil e, daí, Portugal, em 2000 apenas, com um álbum homónimo que era o primeiro cantado em inglês. Love by Grace, um balada tão romântica que quase causa alergia, foi incluída na banda sonora de uma telenovela da Globo, mas o sucesso de Lara deve-se principalmente a uma outra canção do mesmo álbum. I Will Love Again é uma canção atípica para esta cantora nascida em Bruxelas. Dedicada principalmente às baladas, Fabian tem sido constantemente comparada a Celine Dion, sendo a diferença mais relevante entre ambas o facto de Lara ter efectivamente boas canções pop melancólicas com bons textos, e Céline esgotar as suas qualidades na voz, uma vez que a música propriamente dita chega a ser tão camp que toca as raias do insultuoso.
Portanto, eis-me com dez anos, rodeado ainda coleguinhas de turma que seguiam religiosamente a telenovela, fosse ela qual fosse, na SIC e que quase choravam (Ou choravam mesmo, não me recordo bem...) ao ouvir Love by Grace. Claro que esta canção é do pior que Lara já fez. No entanto, ouvi recentemente I Will Love Again e percebi uma coisa. A música pop dançável vai existir sempre. E, se tem que existir, eu penso que é melhor que seja cantada por pessoas que efectivamente sabem cantar e têm uma voz forte, como é o caso de mademoiselle Fabian. Podem dizer o que quiserem, mas ela não é uma Celine belga e esta canção é o exemplo de como uma canção pode ser dançada e ser ouvida também, e de como se pode fazer uma canção pop moderna e upbeat sem por isso abdicar de uma personalidade mais melancólica, presente através do texto da canção e sem precisar de mostrar pernas e mamas e rabos. Que canções dançáveis assim não se façam mais vezes é que é de lamentar... E pudesse Gaga idealizar sequer um dia poder fazer uma canção assim, que eu tirava-lhe o chapéu, ou qualquer adereço estúpido que ela tivesse na cabeça para chamar a atenção pela estética idiota e distrair as pessoas do facto de cantar como uma carpideira velha com problemas de fala e princípios de demência. 

1 comentário:

pedro disse...

que giro... foi bom lembrar o Torn :)