domingo, 2 de outubro de 2011

Dreamhouse de Jim Sheridan

O SHINING DOS POBRES

Estreou recentemente o novo filme de Jim Sheridan, realizador conhecido tanto por 'In The Name of the Father' (1993) que lhe valeu várias nomeações para os Oscar, como por uma bodega chamada 'Get Rich or Die Tryin'', que conta a desinteressante história do rapper 50 Cent. A película com que Sheridan ora se nos apresenta é um thriller chamado 'Dreamhouse' e é um objecto que exige certos cuidados para ser visto. Isto porque é, neste caso, importante separar o filme em si do filme no contexto de tudo o que tem sido feito no cinema de terror.
Comecemos pelo filme em si (Se é que em arte pode existir um em si.): 'Dreamhouse' conta-nos a história de um editor, Will Atenton (Daniel Craig) que se demite do seu trabalho para dedicar mais tempo à família, que acaba de se mudar para uma nova casa. E, enquanto passa mais tempo com a mulher, Libby (Rachel Weisz), e as duas filhas, Trish (Taylor Geare) e Dee Dee (Claire Geare), Will inicia a escrita de um romance, que tinha vindo a pensar desde há algum tempo. No entanto, não demora até que as filhas de Will comecem a falar de um homem que aparece nas janelas, e que Will e Libby ouçam estranhos ruídos que ecoam pela casa. É assim que Will se depara com um culto gótico que decorre no alpendre da casa. Um dos góticos desse culto dá-lhe a entender que teria acontecido naquela casa algum tipo de massacre. As suspeitas de Will levam-no à casa da vizinha da frente, Ann Patterson (Naomi Watts), que parece extremamente reservada no que toca a falar do massacre. A necessidade de manter a família a salvo leva Will a investigar a casa, e essa investigação leva-o a um asilo psiquiátrico onde Peter Ward, o assassino, teria estado internado. É aqui que começa a tornar-se pouco clara a separação entre a realidade e a psicose e Will é forçado a admitir a hipótese de ele mesmo ser Peter Ward.
Tudo isto está filmado com mestria, sabendo o realizador conseguir momentos de sobressalto que acontecem sempre em momentos de maior calmia, o próprio espaço da casa parece abonar em favor de uma assombração e nota-se também a recusa de uma série de clichés deste género de filmes. Os actores, como seria de esperar, estão mutíssimo bem, sendo apenas de lamentar o papel um tanto-quanto apagado de Naomi Watts, que é de facto uma actriz muito expressiva, que mereceria um papel mais intenso.



E se é na realização que este filme tem o seu melhor, no que toca ao argumento de David Loucka começam os problemas. 
Penso que, pelo próprio conceito do filme, podemos intuir em 'Dreamhouse' uma homenagem enviesada a 'The Shining' de Stanley Kubrik. Nada contra, se o filme conseguisse ganhar alguma independência em relação ao que o inspira. Mas não é muito esse o caso. E, mesmo esquecendo essa particularidade, há que reconhecer que nesta história não encontramos nada de propriamente criativo. A ideia da família que se muda para uma casa onde decorre algo de paranormal  tem sido uma das mais utilizadas em cinema de terror, tanto do bom como do mau. E a própria ideia da utilização da psicose como explicação para o suposto paranormal, também não é propriamente rara: bem pelo contrário, temos assistido cada vez mais à utilização das doenças mentais neste contexto, e serve de exemplo o mais recente filme de John Carpenter, 'The Ward'. E ainda que 'The Ward' tenha sido feito praticamente ao mesmo tempo que 'Dreamhouse', a verdade é que há demasiado em comum entre os dois filmes, sendo que a explicação de um e de outro é praticamente a mesma.
O resultado é um filme que, em si, não apresenta problemas de maior mas que, colocado no devido contexto, não é capaz de parecer mais que um 'Shining' dos pobres. E se Sheridan foi aclamado por um filme mais longínquo, a sua fase actual parece, efectivamente, estar a debruçar-se sobre argumentos que não  têm grande assunto; ou assunto novo. Lastimo que assim seja, pois tenho que lhe reconhecer bastantes qualidades enquanto realizador.

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