Parece que Rick Bota é um fã acérrimo de 'Hellraiser'. Digo isto porque, das sete sequelas realizadas, três são da responsabilidade deste realizador, a saber, as últimas três.
'Hellraiser VII: Deader' é a segunda delas, escrita por Neal Marshall Stevens e Scott Atkins, e, depois de tanto aborrecimento e tanto mau filme, parece trazer-nos algo de novo, ou, se não novo, pelo menos algo de invulgar, para esta saga.
Inicialmente, a relação com toda a mitologia desta saga, que se prende com a figura de Pinhead e com a caixa da Configuração do Lamento, tem contornos que quase que nos escapam, mantendo-nos numa espécie de interrogação, bastante saudável, durante algum tempo.
Amy Klein (Kari Wuhrer) é uma jornalista de investigação, bastante bem-sucedida por sinal, a quem é entregue uma história um tanto macabra. Tudo começa quando uma cassete de vídeo é enviada para o jornal onde ela trabalha, onde uma rapariga aterrorizada fala de um culto de suicidas que renascem da morte. Amy desloca-se a Bucareste, para investigar este culto, cujos participantes se chamam Deaders. Na morada de onde a cassete fora enviada, Amy encontra o cadáver da rapariga e a nossa caixa-puzzle. Já no hotel, Amy abre a caixa e tem a primeira aparição de Pinhead. Impelida pelo perigo que corre a deslindar o mistério dos Deaders, Amy cruza-se com Winter (Paul Rhys), o sinistro líder do grupo que, ao que parece, consegue fazer os suicidas ressuscitar. E assim percebemos que a Configuração do Lamento poderá ser a chave do mistério dos Deaders, escondendo também uma relação entre os Cenobites e Winter.
O argumento, enquanto conceito, teria pernas para andar. Com um pouco de esforço para fugir a clichés e alguma atenção no sentido de não repetir aquilo que até aqui havia sido feito na saga teria salvo o filme. O que acontece, no entanto, é que, na sua primeira parte, o filme parece-nos invulgar e interessante. Claro que aparição primeira de Pinhead nos parece muito adiantada, mas a necessidade de garantir uma relação entre os Deaders e o universo de 'Hellraiser' poderia explicá-la facilmente. Além disto, Rick Bota usa algumas fórmulas já vistas nesta saga, mas consegue evitar satisfatoriamente o deja-vu, ou seja: ela usa de novo o tema da tortura psicológica imposta por uma percepção transtornada do real, mas consegue-o através de imagens asfixiantes do labirinto que daí resulta e, mais importante ainda, funde esse labirinto com aquele que existe em torno dos Deaders. Assim, a personagem de Amy parece sempre entre o desejo de fuga e a curiosidade, envolvendo-nos nessa vontade de descobrir o segredo daquele culto.
Mas, algures a meio, o filme começa a banalizar-se brutalmente, mostrando-se incapaz de nos surpreender no que toca a especificar a relação entre os Deaders e a Configuração do Lamento. O problema começa, então, no argumento.
Rick Bota tenta, notoriamente, criar algumas cenas em que mistério e tensão criam em nós um muito conveniente suspense, mas tudo isso parece depois ser anulado pelas explicações que nos são dadas. O que acontece é que, apesar de um princípio invulgar, no que toca a desenlaces, o argumento parece ceder com toda a naturalidade a facilitismos, chegando mesmo ao ponto de repisar a sequela mais inusitada de toda a saga, 'Hellraiser IV: Bloodline', através das sucessivas gerações de LeMerchant, o construtor da caixa-puzzle. Salva-se, a este propósito, a cena em que Amy acorda no hotel com uma faca cravada nas costas: será este um dos poucos momentos realmente conseguidos e quase perfeitos deste filme.
O resultado não deixa de ser um filme medíocre, em que o interesse inicial é interrompido para dar lugar a mais bocejos e à sensação de que, uma vez mais, toda a mitologia de 'Hellraiser' vai sendo usada sem rima nem razão, tornando-se forçada ao ponto do incredível. É pena, porque este filme tinha potencial para ser uma boa sequela. Mas pura e simplesmente perde-se. E quanto a isso, nada a fazer.
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