quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Hellraiser VI: Hellseeker de Rick Bota

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Estamos em 2002 quando é editado, directamente em DVD, a sexta parte da saga 'Hellraiser'. Um primeiro filme invulgar, por mais vomitivo que fosse, três sequelas entre o muito fraco e o medíocre e uma sequela, a quarta, a aproximar-se seriamente de um bom filme.
Carl V. Dupré e Tim Day são os argumentistas e Rick Bota é o realizador. O filme chama-se 'Hellraiser VI: Hellseeker' e traz-nos de volta Ashley Laurence no papel de Kirsty Cotton, que regressa depois de muitas voltas e reviravoltas no destino da saga.
Kirsty começa por morrer, num acidente de carro, carro esse conduzido pelo marido, Trevor (Dean Winters). Enquanto decorre a investigação do acidente, que apresenta o problema de o carro ter caído a um rio e o corpo de Kirsty ter desaparecido, vamos tomando conhecimento da vida de Trevor, que era tudo menos um marido exemplar. Tem pelo menos três amantes, pouco afecto pela mulher, e, mais tarde, descobrimos, tinha ainda um plano para a matar e dividir com um amigo cúmplice a gorda herança a que Kirsty tinha direito.
O problema é que o acidente de carro deixou a Trevor uma série de problemas de saúde, que passam por insistentes dores de cabeça e perda severa de memória, que o leva a, muitas vezes, não ter a certeza do seu passado. As suas dúvidas são asseveradas pelas alucinações de que começa a sofrer. Isto porque, percebemos, há algum tempo, ele havia oferecido um bonito presente de aniversário a Kirsty: a caixa-puzzle da Configuração do Lamento. Aparentemente, quando Trevor a comprara, numa loja ilegal, não estava completamente consciente do que teria em mãos, mas foi Kirsty quem, num acesso de raiva, abriu a caixa.
Este filme começa com uma citação do 'Inferno' de Dante Alighieri:

There is no greater sorrow
than to recall happiness in times of misery

mas esta citação é completamente gratuita. Primeiro, porque a personagem de Trevor está tão pobremente definida que nunca, na verdade, percebemos a verdadeira natureza quer dos seus sentimentos -se é que tem alguns -, quer dos seus interesses. A rejeição das amantes é pouco clara quanto a causas: será um luto ou um efeito das tremendas dores de cabeça de que sofre?
Esta é uma entre muitíssimas dúvidas que facilmente nos ocorrem durante 'Hellraiser VI: Hellseeker', e nem no final elas ficam explicadas.
Este sexto filme parece querer seguir o quinto num aspecto: a substituição da violência física pela psicológica. E, para esse efeito, decalca a técnica usada anteriormente por Scott Derrickson, que é criar em torno do personagem um completo labirinto. Mas, se no filme de Derrickson, sentíamos já algum excesso nesse labirinto, neste, o labirinto não é labirinto, é confusão pura e gratuita. Nada aqui é claro, e isto não é um elogio. O filme parece deambular, apenas, sem ter um objectivo concretamente definido. Pinhead e mais alguns Cenobites aparecem aqui, mas não parecem ser mais do que meros detalhes sem importância, já que o cerne do filme é o drama de Trevor. Nada contra, se ao menos esse drama estivesse bem construído, mas não é mesmo o caso.

A resolução do filme é interessante em teoria, mas, na prática, está filmada de uma maneira tão previsível, que acaba por ser anulada a potencial força da cena.
E se o argumento não está particularmente bem escrito, a realização consegue ficar aquém. Rick Bota não faz mais que uma assemblage de uma série de lugares-comuns do cinema em geral, mas, mais escandaloso do que isso, de uma série de lugares-comuns dentro da própria saga de 'Hellraiser'.
A participação de Ashley Laurence neste filme também não parece ter sido mais do que um mero golpe publicitário, já que a sua presença acaba por ser quase residual. Dean Winters, enquanto actor, nem consegue entender-se se está a tentar transmitir uma ideia de confusão -se é o caso, foi bem sucedido -, ou se é pura e simplesmente incapaz de representar melhor do que isto.
É de supor que duas boas sequelas na mesma saga seja pedir o impossível, não sei.


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