terça-feira, 22 de abril de 2008

Rute Rosas: Não Há Príncipe Azul no Elefante Cor-de-Rosa



Com um longo percurso ligado á instalação, á escultura têxtil, e á utilização de diferentes materiais num só trabalho, Rute Rosas tem fomentado a imagem de uma artista com muito de português, e fiel a determinados imaginários. Numa perspectiva tridimensional, a artista portuense explora questões que já vimos noutros artistas, como sejam Sónia Boyce ou Helena Almeida. A intervenção plástica que faz dessas liturgias, no entanto, tem sido o ponto forte de Rute Rosas. Trabalha continuamente com o tridimensional, trata a instalação por tu, não se limitando a criar vídeos, ou fotos ou esculturas, mas complementando-os e criando uma ambiência.
No entanto, “Não Há Príncipe Azul No Elefante Cor-de-Rosa”, exposição inaugurada no dia 19, o que vemos não é igual a algo que já tenhamos visto.
Quem conhece o Espaço Ilimitado, sabe que não é uma galeria vulgar: trata-se de uma casa antiga utilizada como local de divulgação cultural, e está incluída no Circuito de Miguel Bombarda, nome mais que familiar a qualquer pessoa interessada nas artes que viva no Porto, ou que por lá passe. Não ao acaso Rute Rosas terá escolhido este espaço para mostrar ao público esta instalação: a sua intervenção passa pela total remodelação do espaço: desde o papel de parede, aos candeeiros, aos móveis, ao fogão, aos biscoitos, aos licores, tudo faz parte deste trabalho, não só os objectos grandes como também outros pequenos, tão pequenos que, se não se for cuidadoso, nem se dá por eles. Ou seja, mais que uma simples instalação, “Não Há Príncipe Azul no Elefante Cor-de-Rosa” é uma casa toda, talvez de um casal, ou de uma pessoa sozinha talvez que não pertença a este tempo, ou nele não decorou a casa, mas sim de um outro tempo, mais passado, mais ainda muito familiarmente português: logo na entrada num pequeno relicário, um menino jesus em palhas tem em cima um pano bordado pela artista onde se lê “era uma vez”. Este tipo de bordados, que a artista define como esculturas, serão encontrados um pouco por todo o espaço, com inscrições em pano e não só, bem como os fragmentos na parede de entrada, ou as fotografias emolduradas da artista a bordar.
Visitar esta exposição é pois penetrar num ambiente com o qual os tempos modernos já não nos permitem conviver no dia-a-dia.


Ao mesmo tempo, o título remete-nos para uma história da tradição oral (O que já acontecia em “São Rosas, Senhor” de 2005.), e para uma ausência ou uma esperança vã, como nos remete o facto de estarmos numa casa em que nos é dada a sensação de que estamos num local privado no qual não deveríamos estar sem permissão, sob o perigo do(s) dono(s) nos surpreender(em) e acusar(em) de invasão de privacidade, e no entanto, há todo um vazio que é quase abandono que também povoa o espaço, indicado precisamente pelo desfasamento do tempo, evidente em muitos elementos que não revelo para não destruir a surpresa a quem quer que leia isto e queira ir ver a exposição.
Uma segunda parte do projecto encontra-se no centro do Centro Comercial Bombarda, uma peça que percebemos estar quase deslocada do Espaço Ilimitado, sob o título “…abre a janela, inspira e…!”, e ainda uma terceira parte está á venda no Matéria Prima do Edifício Artes em Partes, com o nome “para princesas, príncipes e ladrões de sonhos”.
A não perder nestes três locais do Circuito, até 24 de Maio.

1 comentário:

barbedo disse...

como cantaria a amália,
é "uma casa portuguesa"!