sábado, 26 de abril de 2008

Ricardo Barros: Identidade Oceânica





Os portugueses, por ocasião geográfica, foram sempre vivendo um pouco do mar, fomos os primeiros a ir atravessá-lo para saquear outras terras, e só com o final da Guerra Colonial deixamos esses saques.Ricardo Barros não é, portanto, o primeiro artista português a debruçar-se sobre a questão atlântica, mas fá-lo de uma forma distinta, e muito expressiva.



São óleos pintados como se fossem aguarelas, poderiam lembrar Turner, mas estes são mais pesados, sem dúvida.
E são pesados porque nestes trabalhos, o mar, enquanto vastidão, enquanto massa ilimitada (Ou quase ilimitada.), surge como elemento separador: saudade, distância, ausência, espera, possivelmente um pouco de morte, todos confundidos na superfície do mar, aos olhos de um observador que parece procurar instrospeção.
Nascido no Porto, Ricardo Barros partiu em 2001 para os Açores, onde começou a produzir os trabalhos expostos agora sob o título "Identidade Oceânica". O tema principal é, como se disse o mar. No entanto, a estas paisagens juntam-se machas de tinta formando grafismos bizarros, desenhos em aparente esboço, com reminiscências renascentistas, "O Pintor Morreu" com uma bela influência da pintura barroca, e ainda vários retratos do compositor Johannes Brahms e do escritor Antero de Quental.
Quem lembra pessoas como Natália Correia ou José Medeiros, vindos dos Açores para o continente, certamente lhes lembrará um discurso poético e muito individual. Estas características pertencem também a estas obras de Ricardo Barros, mas de uma forma inversa, porque se sente uma certa tensão, uma certa sensação de evasão emotiva a transpirar através das pinceladas soltas mas exactas.
No caso dos trabalhos não figurativos, pode-se quase falar de uma atitude expressionista, ainda que não seja exactamente isso; e, definitivamente, pode-se falar de uma criação impulsiva, em que a cor e a forma se juntam, deixam espaço para muitíssimas interpretações, e, indo mais longe, parecem estar intrinsecamente ligados aos restantes trabalhos, não sendo a abstracção uma forma de desligar estas imagens das imagens figurativas.
No fundo, ver esta exposição é como visitar várias alas de uma mesma casa, ainda que esta não tenha existência física, tem, certamente, muita consistência.
Para ver na Galeria Artes do Solar de Santo António até 20 de Maio.

O VÍDEO da exposição, com as obras e imagens da inauguração pode ser visto no YouTube, em http://www.youtube.com/watch?v=9xCqgQMW1Sc&feature=user

2 comentários:

Anjos Silva Mendes disse...

Afinal neste país existem óptimas escolas como a Soares dos Reis e excelentes alunos como o João.
Grata pela sua atenção.
M. Anjos Mendes

RBarros disse...

Barros, Cristina

Sou a esposa do pintor Ricardo Barros. Ele informou-me que havia oferecido um livro da sua obra a um aluno da Escola Soares dos Reis, onde rez o ensino secundário e da qual traz muito boas recordações.
Agradeço em nome dele a atenção prestada por um aluno interessado e, pelo texto escrito, muito inteligente. Tudo de bom.
Cumprimentos,
Cristina Barros