terça-feira, 8 de abril de 2008

Das Margens de Vitor Ribeiro

Falar de margens, como falar de tantas outras coisas, pode ser falar de tantas coisas quantas pessoas falarem delas. No entanto, quando se fala de margens, a primeira imagem que nos surgirá, digo eu, será mesmo a das margens de um rio. Mas podemos encarar a margem como um comportamento que foge ao comportamento usual.
E estas duas ideias distintas, parecem ser igualmente aplicáveis á mais recente exposição de Vítor Ribeiro.






"Árvore das Margens"


O artista portuense, nascido em 1957, mostra assim 17 esculturas e alguns desenhos projectuais, em Brecha de Santo António.
São principalmente, imagens de árvores. Árvores que podem muito bem ser o que existe nas margens de um rio. E estas árvores são esculpidas aproveitando a textura do material, a rugosidade ainda não polida, e construindo os ramos de uma forma simplista, quase tosca, não fosse a delicadeza das curvas e contracurvas. Mas não há nenhuma preocupação em ser muito realista. É-nos dada a certeza de que estamos perante a escultura de uma árvore, na maioria das vezes sem serem esculpidas muitas folhas ou uma reprodução minuciosa da textura dos troncos. E é aqui que entra a outra margem, a escolha de recusar os elementos habituais para nos dar a sugestão de uma árvore. E assim, Vítor Ribeiro cria algumas dualidades muito interessantes, como o facto de alguns ramos parecerem quase antropomórficos, pessoas em poses de momento, como as estátuas do Barroco. Mas isto depende muito da imaginação de quem vê. No entanto, o facto de ser possível, faz da exposição susceptível a várias interpretações, e este é um dos princípios da arte.





"Árvore Debruçada"




Assim sendo, e fazendo lembrar a belíssima fase dos “Escravos” de Miguel Ângelo Buonarrotti, vemos estas árvores que vão emergindo do bloco (“Friso”.) ou que irrompem dele como se se levantassem (“Tronco”.), que apenas assumem os seus próprios contornos (“Tronco Velho”.), ou que vão devorando de fora para dentro (“Árvore das Folhas.”), ou que vão vertendo da pedra sobre os suportes de ferro (“Árvore Debruçada”.). Além desta possível reminiscência renascentista/ maneirista, é possível, pelo aspecto rude do todo das esculturas, encontrar algumas referências pré-históricas, assumindo o artista várias estilizações da imagem da árvore.
Além das árvores, em dois trabalhos, Vítor Ribeiro apresenta casas: “Imbordeiro” e “Da Minha Casa Á Tua”, em que usa a irregularidade da pedra e, sobre ela, que dá a sugestão de vertente de montanha, ou de aproximação a um vale onde corra um rio, esculpe as casas, também de uma forma simplória e estilizada. Em “Imbordeiro” toma ainda a opção de colocar a casa e uma pequena árvore sobre o vale, e o vale sobre um expositor cónico, como se houvesse o perigo do transbordar das margens.

"Árvore do Rio"


Ou seja, nesta exposição, são as árvores o elemento que decide onde estamos. O espectador, na sua posição de observador, observa as esculturas desde o rio, é o que passa e vislumbra as margens, vê o que fica ali, erecto, erguido ao ar. O rio, esse, passa na Galeria de São Mamede, em Lisboa, até Abril. A passar, devagarinho.

2 comentários:

T. disse...

Muito bom mesmo. Melhor ainda é conhecer "por dentro" a forma de pensar/viver a arte, em especial a escultura, deste artista. Conhecer a evolução ao longo dos anos a nível artístico e as várias fazes por que passou, vale a pena!

T. disse...

Já agora eu sou mais Português & Super Bock!! Heheh...gostei do Blog!!

Tânia Ribeiro