Quando começamos a ouvir "Back To Black", enquanto Amy Winehouse nos diz "They tried to make me go to rehab, I said no, no, no", percebemos que desde os tempos de "Frank", alguma coisa mudou. O que mais sobressai é a voz. A voz que se tornou mais grossa, mais rasgada, e, claro, mais forte. A matriz também mudou. Se em "Frank" encontrávamos traços de jazz com contaminações ligeiras de R&B, em "Back To Black", encontramos a música soul, raizada nos anos sessenta setenta, com a voz a deambular entre fantásticos arranjos de sopros.
Estamos, certamente, com um dos melhores álbuns de Soul dos últimos anos, ainda assim, o segundo álbum de Amy Winehouse não é irrepreensível. Algumas canções, como "He Can Only Hold Her" ou "Some Unholy War", por boas que sejam, ficam apagadas em comparação a outras, fortíssimas, como "Yolu Know I´m No Good", "Me and Mr. Jones" ou "Tears Dry On Their Own".
Abona também a favor da cantora londrina a atitude expedita que usa para escrever as suas letras. Enquanto poderia estar a escrever letras sobre o amor, ou a falta dele, Amy Winehouse conta-nos como engana o namorado com o ex, recusa-se a ir para a rehabilitação, chora e grita e sofre, etc, etc, etc, uma desgraça boa de ouvir, porque nos põe em contacto com as piores coisas que já fizémos.
Em vez de seguir uma linha fácil, de modernidade Alicia Keys ou Ciara, Winehouse vei eber influencias á soul de há muito tempo atrás, arranjos que lembram os de Nina Simone ou Aretha Franklin. Nada contra quem o faz, mas, enfrentemos as coisas, assim soa melhor. Canções como "Me and Mr Jones" no seu tom divertido e insultuoso, "Tears Dry On Their One" ainda a lembrar "In My Bed", ou o energético "Wake Up Alone" merecem, de certeza, os rios de tinta que têm corrido sobre Amy. Só é pena que a imprensa se distraia das canções refrescantemente boas, e se concentrem nos problemas com o álcool que a cantora tem.
Felizmente, vão longe os tempos de "Fuck Me Pumps" ou "Know You Now", que, mesmo sendo boas canções, não chegavam nem perto de "You Know I´m No Good" ou "Back To Black". Nota-se que Winehouse ainda não decidiu o que quer fazer, mas uma coisa é certa: fez dois álbuns em dois registos diferentes e não se saíu mal em nenhum. Veremos o que fará a seguir, mas se optar por seguir na linha de "Back To Black" não é uma má escolha.
Veredicto Final_ 18/20
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