segunda-feira, 15 de julho de 2013

primitivos flamengos
















para os primitivos a
felicidade estava na minúcia
da transcrição do real:
a textura das coisas era

levada muito a sério,
o brilho dos metais, a
perfeição de uma haste
a elevar-se de uma jarra, a

tapeçaria caindo em
largas pregas, outros tecidos
dobrados silenciosamente,
ou, para lá do rosto oval

de alguma santa, a paisagem
a rasgar-se azul e verde,
até se esfumar, longínqua. e
por entre baldaquinos, espaldares,

trabalhados dosséis,
a luz existia na pele das coisas e a
alegria era a serena confiança
de se estar no mundo, podendo

copiar estas aparências


Vasco Graça Moura
O Retrato de Francisca Matroco e outros poemas
1998, ed. Quetzal
pintura de Jan Van Eyck

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