Sendo mais um filme do chamado "ciclo camiliano" de Manoel de Oliveira, "Francisca" é importante também por ser a primeira das várias adaptações do cineasta de livros da escritora portuense Agustina Bessa-Luís, neste caso a famigerada "Fanny Owen"; mas simultâneamente por ser mais um gigantesco passo em termos de estilo para o realizador. De facto, em Francisca os travellings são raríssimos, e nos poucos que há, a lentidão é tanta que por vezes são quase imperceptíveis.No entanto, em termos de estilo, o que mais ressalta é sem dúvida a fortíssima teatralização, como se Oliveira estivesse mais interessado em filmar teatro do que na criação de uma situação em que o papel do escpectador é propositadamente ignorado (Quando, como aqui, os actores se dirigem à câmara, assumem que alguém os irá ver/ouvir posteriormente.).
"A Alma é um vício"
diz-lhe, algures pelo início, Francisca. E é este vício que será atormentado e que será explorado ao máximo ao longo do filme, e em três partes: Francisca, José Augusto e Camilo. Desde o casamento entre os dois primeiros que se concrectiza após Fanny ter fugido de casa, até ao momento em que Camilo descobre que Fanny dirigira cartas a outro homem sobre o seu marido, o que leva este a desconfiar da sua virgindade e a não consumar o casamento.
Após a morte de Francisca, uma pergunta fica sem resposta:
"_O que faz com que amemos alguém?"
Não sabemos. Tudo o que vemos é o coração de Fanny, de onde brotavam nem o Bem nem o Mal, mas simplesmente a Força. É isso que se depreende das palavras de José Augusto, e é isso que resume a protagonista desta história Agustiniana.
Apenas por esta pequena questão de montagem o filme não é perfeito.