O SEGUNDO SOL
And the things that are flowers are dead
I keep waterind the dead flower
There's not enough of me to make a bouquet
Stop watering the dead flower
Marilyn Manson, Doppelherz
Sob o brilho da manhã encontro
o abismo, memória
da infância que foge para nos atormentar
ou proteger.
No betão derrama-se a luz e acorda
o desejo de fuga, o drama de um exílio.
Há uma flor morta.
O teu perfil
tem a força da seiva, o olhar
vago traz de voltao tempo
em que o corpo se tornou vida.
Às vezes parece que te amo, outras
és só espelho.
Tens a mão pousada sobre a perna
Tens a mão pousada sobre a perna
como uma promessa esquecida.
Vem a laceração,
o gelo sob a pele, translúcido,
e a flor morre mais
apesar de seres água ou
um segundo sol que dá vida
mais do que a dá o primeiro.
Vou contra o tédio e a inércia
a imaginar o teu corpo
abraçado ao meu como se fôssemos
a mesma sombra.
[João Borges: Lisboa, 13.3.12]
desenho de Isabel de Sá
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