Na cidade de Valenciennes, no norte de França, há uma pequena basílica do século XIX que mais parece uma peça de barro lambujada, ou um desses moínhos de areia molhada que erguemos à beira-mar. Tem o aspecto de um sólido que liquesce devagar, as arestas boleadas, os elementos esboroados, tudo ameaça desfazer-se a um breve tocar e não resta outra solução que não seja impedir as pessoas de entrar, esperar que de uma vez por todas o monumento se esfarele. A razão de tudo isto é evidente: o uso, na construção, de uma pedra imprópria para templos que se querem pelos templos.
Olho a fotografia de dois amantes, abraçados, sorrindo-se, com a Notre-Dame de Valenciennes em pano de fundo. É o começo do Outono, a julgar pelas roupas, o chão molhado, a cor do céu. A basílica, creio, ainda lá está nessa cidade desengraçada e triste que nenhum turista, com o juízo inteiro, se lembrará de visitar duas vezes. Demoliram primeiro que tudo os amantes.
À fotografia guardo-a de novo, mas agora mais fundo dentro da caixa.
Miguel-Manso
Santo Subito
2010
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