Vamos ficar sozinhos no mundo,
estrídulo ermo na ignição do pó.
Batem as pancadas na cabeça,
de noite, de dia.
Autismo. Olhar de sangue. Gestos
de náufrago na secura.
A terra? Vai ser máquina, sem boca
nem olhos. Só garras, a esgravatar
no cérebro. A devorá-lo ficam
a alucinação «in progressu»,
as pulverizações.
Invoco só os construtores de vento.
Vento para atear o pó do império,
furacões varrendo os mapas,
cidades e países e empresas,
vendavais
pra enxotar os bois do investimento,
as vacas que mugem no emprego,
as mulas do crescimento,
a formiga eléctrica do lucro.
A cabeça não explode,
por causa do cabelo.
Júlio Henriques
Modas & Bordados d'Alice Corinde
1995, ed. Fenda
pintura de Frans Snijders
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