domingo, 8 de abril de 2012

Pródromo


Vamos ficar sozinhos no mundo,
estrídulo ermo na ignição do pó.

Batem as pancadas na cabeça,
de noite, de dia.

Autismo. Olhar de sangue. Gestos
de náufrago na secura.

A terra? Vai ser máquina, sem boca
nem olhos. Só garras, a esgravatar
no cérebro. A devorá-lo ficam
a alucinação «in progressu»,
as pulverizações.

Invoco só os construtores de vento.
Vento para atear o pó do império,
furacões varrendo os mapas,
cidades e países e empresas,
vendavais
pra enxotar os bois do investimento,
as vacas que mugem no emprego,
as mulas do crescimento,
a formiga eléctrica do lucro.

A cabeça não explode,
por causa do cabelo.

Júlio Henriques
Modas & Bordados d'Alice Corinde
1995, ed. Fenda
pintura de Frans Snijders

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