Teresa, teresa,
Quem me fala?
Sou eu, a tua companheira
É ele quem te manda?
Pousa a cabeça nos meus braços, teresa sem medo
ouve,
hoje foi a enterrar no texto um dos meus gatos
escrevi que não me cansarei de escrever que os animais crêem em nós
como se chamava
Farófia
que nome estranho para um gato
o que é estranho é ter um nome, teresa
repara
está branco no interior do armário de Joshua.
Sem nada; rien condiziria melhor com a realidade, conduziria melhor o armário, através do corredor, até à porta. Está descendo as escadas, compassadamente. Sem gritos.
não para me entregar, mas para ser um só com o teu caminho no horizonte, para lá deste claustro, recortam-se as árvores, talvez choupos e chorões
porque a manhã é rara
sobre para além da manhã e alcança-me
irrompe subitamente na tristeza que se apresta a invadir-me
não permitas que eu soçobre
pergunta-me
faz-me perguntas
pergunta-me que sonho tive no texto da noite
pergunta-me se sofro porque tudo abrasas
os móveis da nossa morada, imagens, bibelots, cartas, rendas, livros
tudo e a madeira de que eram feitos
quando voltei já não se encontravam
pergunta-me se o vazio me faz sofrer
se a curva das árvores me aproxima de ti
rosto pouco a pouco conhecido
Maria Gabriela Llansol
Ardente Texto Joshua
1998, ed. Relógio d'Água
gravura de J.B. Greuze
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