sentei-me ao sol
no alto das escadas de Alcântara
a ver os barcos
o rio
os carros que faziam barulho
lá em baixo
fiquei assim muito tempo
sentada ao sol
deixei o sol aquecer
um corpo que já tremia
por ter ficado sozinho
perplexo
sem resistência
por ter ficado sozinho
o corpo já se morria
todas as árvores são
aquelas mesmas árvores que eu vi?
e o céu
é sempre o mesmo céu?
e a terra em que me deito
é sempre a mesma terra
quer eu diga que vivo
ou que morri?
Yvette K. Centeno
Perto da Terra
1984, ed. Presença
imagem de Lourdes Castro
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