Um quilo de chumbo não pesa mais que um quilo de penas?
Entre as penas pesadas e os levíssimos soldadinhos de chumbo se busca uma perda de eloquência do desejo. Porém cada simulacro de morte encerra a vontade de ser seu encantador e espectador. E a forma persegue a matéria. Morte em segunda mão. Face cega a esboçar um sorriso à causa que infinitamente passa e lhe pede esmola. Festim de fim para o qual se juntam os restos. Que faremos nós deste gosto e do desgosto?
Em rigor um quilo de chumbo não pesa mais que um quilo de penas. Deste lado, os olhos amadurecem e caem como certos frutos desejam ser pisados. Aqui na terra como no céu, o terror das palavras pertence ao passado. Importa saber em que terreno as palavras caíram e experimentar todos os desvios que permitem caminhar para elas, fora de tempo.
Regina Guimarães
in A Hora Sua (antologia de textos para fotografias de Renato Roque)
1999, col. livros de fotografia, Assírio e Alvim
fotogrefia de Renato Roque
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