Se depois de "The Back Room" (2005), "An End Has a Start" (2007) sugeria os Editors como um dos nomes mais interessantes do indie-rock actual, "In This Light and On This Evening" (2009) vem dar a confirmação. O terceiro álbum dos Editors, lançado recentemente, é um verdadeiro acto de originalidade, bem como um salto impensável em comparação com o álbum anterior que já de si não era nada mau. O problema que existia nos primeiros dois álbuns seria talvez a facilidade com que se lhes atribuíam influências, e de certa forma, também a semelhança entre os dois.
Mas logo na primeira faixa, que dá nome ao álbum, "In This Light and On This Evening" mostra-se redondamente diferente. É certamente uma das melhores faixas do disco, mesmo sendo claramente uma introdução. Aí se nota já a assumpção do lado electrónico, perfeitamente nivelado com as guitarras eléctricas que são, já se sabe, obrigatórias. A voz de Tom Smith também parece agora encontrar o seu melhor registo. É uma voz grave e tem, daí, as suas limitações, agora perfeitamente controlada. As letras, também da autoria do vocalista, mostram-se bastante mais politizadas, mantendo um certo lirismo quase adolescente que tem sempre a sua graça, como acontece em "You Don´t Know Love", uma das faixas mais interessantes deste trabalho.
Algumas faixas ainda relembram um pouco a sonoridade anterior (Caso de "Bricks and Mortar".), e outras afastam-se completamente dele (Caso de "Papillon".).
Se se quiser procurar influências, será desta vez um tanto mais difícil falar de Joy Division, mas poder-se-á falar ainda de Blur, e há que acrescentar Goldfrapp, ou pelo menos a fase Black Cherry-Supernature dos Goldfrapp, fase que afinal veio influenciar mais do que previsto os músicos actuais, dos Muse aos Editors.
A ascensão do lado electrónico na música dos Editors não significa, claro, uma perda da melancolia que existia nos álbuns anteriores (Em "Fall" ou "Spiders", por exemplo.), sendo recuperada em momentos como "You Don´t Know Love" ou "Walk The Fleet Road", resultando, no entanto, esta melancolia mais densa agora, e o electrónico torna-se, em vez de dançável como mais imediatamente poderia acontecer, mais negro e até depressivo.
Outra característica que importa referir acerca de "In This Light and On This Evening" é a repetição, o obsessivo, numa espécie de alusão, por exemplo, à música barroca ou, se quisermos ser mais rebuscados, à música experimental. Em canções como "Eat Raw Meat= Blood Drool", funciona tanto a repetição de determinada frase (De palavras.) como a repetição da mesma frase musical. "The Big Exit", outro dos melhores momentos deste disco, é um exemplo acabado disto. Além das notas musicais, Tom Smith diz repetidamente "They took what once was ours".
Em contraponto ao que é a música dos Editors, este disco está também mais próximo do som dos Editors ao vivo e, se partirmos do princípio que essa é a ambição de todas as bandas, de facto é uma ambição atingida com "In This Light and On This Evening". Por outro lado, talvez por ser uma sonoridade bastante mais negra e obcecante, será dos discos dos Editors o menos radio-friendly, mesmo contado com "Papillon" e com o facto de nenhum dos anteriores álbuns ser propriamente muito vendável.
Não me parece que tenha sido referido em lugar algum pelos elementos da banda, mas a verdade é que "In This Light and On This Evening", intencional ou inintencionalmente se aproxima muito do conceito de ópera-rock que já foi assumido, por exemplo, pelos Muse. Neste álbum há muito pouco de avulso, pelo contrário, há uma coesão e uma sequência que será tudo menos inocente. Faz com que faça pouco sentido isolar as canções umas das outras, se realmente a melhor forma de apreciar a nova série é mesmo por completo.
Nisto, em nada "In This Light and On This Evening" se torna chato, nem tem canções inconsequentes, como acontecia pontualmente nos dois discos anteriores que eram, curiosamente, mais curtos do que este.
Resumino, "In This Light and On This Evening" é definitivamente um dos melhores álbuns que tem sido editado ultimamente.
o vídeo de "Papillon"
"You Don´t Know Love" em versão acústica
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