Aonde está o vidro da janela,
aonde está o longe, o além, o ali
réstia de sol que eu sabia
morar dentro de mim?
Que pássaros vorazes comeram as estrelas
tragaram nos penedos
nuvens de fogo correndo à desvairada?
Miragem da distância transparente
que mãos te destruíram memória sonhos ruína
na ponte que me leva as lágrimas ao vento?
E o meu cabelo preso na porta que fechaste.
Não há canto de galo
nem manhã com perto
não há silêncio,
nem vozes para o ver.
Não há senão
o não haver.
Morre fastio azul no corredor deserto.
Sem rebanhos,
perco mãos nas cristas das montanhas
e sinto as algemas da ordem
sem segredo.
Manteiga sem vaca, nem mugido, nem esterco.
Ai rio, rio,
braços que me escorrem à procura de mar.
Como me dói o ar!
Salette Tavares
Espelho Cego
1957, ed. Ática
pintura de Frank Auerbach
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