O que percebo eu de ópera? Sinceramente, não percebo nada. Mas sinto-me obrigado por mim mesmo a falar do mais recente álbum de Cecília Bartoli, "Opera Proibita", uma vez que é um dos álbuns que mais me tocou, de sempre. Canta composições de George Frideric Handel (1685- 1759) enquanto jovem, António Caldara (1670-1736) e Alessandro Scarlatti (1660-1725), todos eles compositores Barrocos italianos.
Esta época particular, o Barroco é, como se sabe, uma época de dualidades. No século XVII, após a "crise das consciências"do Renascimento, em que, em vez de Deus, era o Homem o centro do universo, a Igreja decide contra-atacar, também para se defender do Protestantismo. Assim nasce a génese do Barroco, a estética do exagero, com o intuito de seduzir quem vê, de atraír e sensibilizar as pessoas sobre Deus. Com base nesta manipulação se construíram algumas das mais belas igrejas de sempre, e se produziram as mais prodigiosas peças de arte. Bernini, Caravaggio, Georges de la Tour, Maderno, Borromini ou Nicolas Nasoni são alguns dos artistas que mais se destacam nesta época. No campo da música, no entanto, as coisas eram diferentes. A igreja decide proibir a ópera, dizendo que agora é tempo de rezar e não de nos divertirmos, e proíbe as mulheres de interpretar música, o que acaba por originar a existência dos castrati, homens com vozes efiminadas que interpretavam mulheres. Mas os compositores da época não desistem de compor ópera, e fazem-no, mas garantem que o que compõem é música religiosa. Destacam-se nomes como Antonio Vivaldi, Bach ou o português Carlos Seixas.É este tipo de árias que Cecilia Bartoli interpreta aqui, e é a sua carga histórica que dá título ao álbum, gravado com a orquestra dos Musiciens du Louvre, sob a direcção de Mark Mikowski.
Abre com "All´Arme Si Accesi Guerrieri" de Scarlatti, uma ária alegre e glamorosa, ideal para a abertura do álbum. Roma cabe lá dentro, sem dúvida. A voz de Cecília é bonita (Ela também.), digo eu que será potente, parece bastante á-vontade com a ginástica vocal que faz, ou seja, uma boa intérprete.
De todas as árias que interpreta, as que mais me tocaram foram "Notte Funesta... Ferma L´Ali" de Handel, "Caldo Sangue" de Scarlatti e, principalmente "Si Piangete Pupille Dolente" de Antonio Caldara. Uma das mais belas coisas que já ouvi na vida.
Não posso dizer muito mais, porque corro o risco de dizer disparates, isto se já não o fiz. O que eu queria mesmo dizer é que gostei muito deste álbum, independentemente do que disserem os especialistas na área.
Veredicto Final (E De Um Ponto de Vista Puramente Pessoal)_ 19/20
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