Foi com a plateia lotadíssima que Maria de Medeiros se deparou quando, Terça-Feira, subiu ao palco do Teatro Municipal Sá de Miranda, em Viana do Castelo. Em apresentação estava o álbum "A Little More Blue", em que a cantora/actriz desenha jazz em cima de clássicos brasileiros saídos de referências como Caetano Veloso, Chico Buarque, Dolores Duncan e Ivan de Lins.
Tímida dentro do seu vestido azul, Maria começa com "Joana Francesa" que, tal como no álbum, surge ligada com "Acorda Amor", ambas de Chico Buarque. É precisamente em "Joana Francesa" que tem a pior interpretação da noite: não por ter cantado mal, mas por, talvez devido á timidez, se ter colado demasiado á versão de estúdio. Mas em "Acorda Amor" já são imperceptiveis os rastos de timidez, e consegue, por contraste, um dos melhores momentos da noite.
Após algumas palavras em que reafirma e reforça a carga política das canções, entra a matar por "A Little More Blue" de Caetano. A partir daí, tanto desfila com as canções que compõe o seu álbum de estreia, como apresenta outras, principalmente do reportório que Chico e Caetano escreveram no exílio, em Roma e Londres, respectivamente.
Aqui, quase disfarçadamente, Maria retira alguma consistência ao álbum: é óptimo que interprete canções exteriores a ele, especialmente quando o faz com tanto brilhantismo como em "Adolescente Sentimental", mas se, para isso, abandona temas que fazem parte do álbum, como "O Quereres", já não é tão bom.
Áparte disto, nada a dizer. Maria canta bem, muito bem, soube conduzir os músicos, o alinhamento estava bem feito, pensado para realçar não só a pessoalidade de Maria de Medeiros, como também as qualidades da sua voz.
Brilhou em "Samba de Orly", na dupla interpretação de "Tanto Mar", do qual fez questão de realçar a história, e ainda lhe acrecentou uma porção de "Grândola Vila Morena" de José Afonso, que não deixa de surpreender.
"A Noite de Meu Amor" assenta como uma luva tanto á voz como á postura de Maria, assim como "Começar de Novo" de Ivan de Lins parece reforçar um certo ar revolucionário que a filha do maestro Vitorino d´Almeida por vezes assume, consciente ou inconscientemente.
No meio de algo tão bonito, só tive pena que o público, na sua maioria, fosse pouco participativo, uma vez que me parece que algo tão bom merecia um pouco mais de reacção. Enfim.
Veredicto: 19/20
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