terça-feira, 23 de maio de 2006

A Memória Segundo Faulkner





"A memória acredita antes de o conhecimento poder recordar. Acredita durante mais tempo do que ela se lembra, durante tanto tempo que até espanta o conhecimento. Ela conhece, lembra-se, acredita num corredor povoado de ecos gélidos, de um enorme e longo edifício com empenas, feito de tijolos vermelhos escuros, batido pela fuligem de muitas chaminés para além da sua próprial, situado por trás de uma cerca num terreno sem relva cheio de resíduos de escória, cercado pelos confins de fábricas fumarentas e vedado por uma barreira de arame e aço, como uma penitenciária ou um jardim zoológico, e onde surgem, num caso errático, órfãos vestidos com fardas idênticas de sarja azul, soltando os seus agudos palrares infantis, entrando e dsaindop das recordações, mas constantes no conhecimento, tal como os muros ermos e as janelas solitárias onde a chuva parece tracejar lágrimas negras com a fuligem das chaminés vizinhas."




William Faulkner, "A Luz Em Agosto", cap. 6, 1932
Imagem: "A Madalena Arrependida" de Georges De La Tour.








W.F. nasceu em 1897 no Sul dos Estados Unidos, e venceu o prémio Nobel da Literatura em 1949. Morreu em 1962.
G. d.l. T. nascido a 13 de Março de 1593, em Lorena, França, é um dos mais importantes pintores barrocos. A grande influência nos seus trabalhos é o pintor italiano Caravaggio, em particular pelo uso do tenebrismo.

Retorno




FADO DO RETORNO

(Lídia Jorge)



Amor é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Voltaste já voltaste
Já entras como sempre
Abrandas os teus passos
E paras no tapete

Então que uma luz arda
E assim o fogo aqueça
Os dedos bem unidos
Movidos pela pressa

Amor é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Voltaste, já voltei
Também cheia de pressa
De dar-te na parede
O beijo que me peças

Então que a sombra agite
E assim a imagem faça
Os rostos de nós dois
Tocados pela graça

Amor é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Amor, o que será
Mais certo que o futuro
Se nele é para habitar
A escolha do mais puro?

Já fuma nosso fumo
Já sobra a nossa manta
Já vem o nosso sono
Fechar-nos a garganta

E então que os círios olhem
E assim a casa seja
A árvore de Outono
Coberta de cerejas



Foto: Henri Cartier Bresson: "Charlotte"

Barbies, Nenucos e Afins

Feliz ou infelizmente (a minha queda é mais para a existência do prefixo) estamos longe do Natal, ou daquela época a que os católicos praticantes gostam de chamar o advento. Logo, não temos que ser plasmados com toda a quela publicidade estúpida de Nenucos e Barbies e Kens e coisas do género.É que isso a mim impressiona-me muito.Por exemplo: como é que a Barbie nunca parece ultrapassar os vinte e poucos anos e tem tantas profissões? Ela é médica, veterinária, mergulhadora, bióloga, e ainda tem tempo para as causas nobres como ser amiga dos animais? Qualquer pessoa normal precisaria de pelo menos 40 anos para fazer esses cursos todos e ainda ter tempo para pensar nos animaizinhos! E logo a Barbie, com aquele aspecto de loira burra (sem ofensa para as loiras) é que é a sobredotada que conseguiu fazer tudo ao mesmo tempo? Sinistro...Já por isso não me surpreende que o Ken não faça nada senão aparecer ao lado dela, qual tia do pseudo jet set! É normal. Com o dinheiro todo que entra na casa só com os 5000000 ofícios da Barbie, não há marido que precise de trabalhar, bem pode ficar em casa a ver Sport TV (o Ken tem todo o aspecto disso) ou a ver filmes.Outro ser impressionante é o Nenuco, que nunca cresce! É incrível. A minha irmã tinha Nenucos quando era pequena, e já fez 14 anos e o Nenuco continua a aparecer na TV com a mesma idade e o mesmo ar impassível. E pior: é incrível como fazem tanto escândalo só porque ele consegue fazer chichi ou porque consegue dizer mãmã e papá!!! Quer dizer... quem é a criança que não faz isso? Se fosse tocar saxofone, dizer interdisciplinariedade, declamar Fiama Hasse Pais Brandão ou entender o que significou em termos políticos o desastre de Chernobyl.... eu ainda admitia o alarido, mas assim... por favor...

sábado, 20 de maio de 2006

António Lobo Antunes: Eu Hei-de Amar Uma Pedra

O PRODÍGIO DO PRODÍGIO


Precisamente quando eu achava que "O Manual dos Inquisidores" seria sempre o meu romance preferido de António Lobo Antunes, "Eu Hei-de Amar Uma Pedra" vem contrariar-me. "Eu Hei-de Amar Uma Pedra" é, desde logo, um romance diferente no processo de escrita. Em vez de uma história imaginada, tem como enredo uma história verídica. António Lobo Antunes encontrava-se a escrever num gabinete de hospital, quando um colega seu, psiquiatra o chamou para ouvir o relato da bizarra história de amor de uma mulher. Descrita no livro como
"Doente de 82 anos, sexo feminino, idade aparente coincidindoi com a real, Orientada no tempo e no espaço, alo e heteropsiquicamente, memória conservada de acordo com os parâmetros etários, contacto adequado, sintónico embora retraído, com dificuldade em verbalizar o motivo da consulta"
é a sua história que faz "Eu Hei-de Amar Uma Pedra".
A mulher, cujo nome nunca sabemos, conhece o homem, de quem também não conheceremos o nome, quando ambos são ainda jovens. Posteriormente, ela é internada num sanatório em Coimbra. Ele escreve-lhe, ela responde-lhe, mas as cartas não são enviadas. Ele deduz que ela morrera.
Casa. Tem duas filhas. Vive em Lisboa, com a família, quando reencontra a mulher, que saíra do Sanatório, e era agora costureira. Iniciam uma bizarra relação.
Durante as férias de Verão que o homem passa em Tavira, Algarve, a mulher está sentada dois toldos adiante, tapada com um interminável crochet. Olham ocasionalmente um para o outro. Ás quartas feiras encontram-se numa pensão rasca na Graça, e, na Primavera, encontram-se por vezes num hotel em Sintra, de onde observam as acácias em flor.
Depois, o homem morre, e a mulher decide consultar um psiquiatra, dado o estado de perfeita melancolia em que mergulha.




É o tipo de história bonita que nunca pensei que António Lobo Antunes fosse escrever. Não me interpretem mal, a dureza e crueza e realismo que são a imagem de marca deste escritor continuam lá, mas agora inseridos numa comovente história de amor.
Analisando as situações através de fotografias, consultas (no psiquiatra), visitas e narrativas, vai modelando os seus personagens, cada um com o seu lado bom, e com o seu lado negro.
A personagem da mulher da praia, é introduzida de uma forma tão discreta que, mais tarde, quando percebemos que se trata da protagonista, é difícil acreditar.
O último capítulo, e o único em que a narradora é essa mulher, é de uma beleza tocante, poética mesmo, e única no contexto dos romances de António Lobo Antunes.
Não é um livro perfeito apenas por perder demasiado tempo com a vida do psiquiatra, que, para o enredo, não interessa rigorosamente nada, mas essa é uma marca a que Lobo Antunes há muito nos habituou, e, devo dizer, não é de todo mau, uma vez que descentraliza o romance, e torna-o mais vívido, mais real, por explorar também a vida de uma pessoa que não está directamente envolvida na intriga principal.
É bonito ver uma relação que durou sessenta anos, que vivia destas pessoas se olharem as tardes que passavam na praia nas férias, e as tardes de quarta-feira numa pensão perdida na capital. Quantos de nós poderiam ter uma relação assim, tão forte, tão estoica? Era verdade que, com tão pouco tempo juntos, acabavam por disfrutar apenas do bom lado da relação, uma vez que não tinham sequer tempo para discutir; mas se virmos bem, esta mulher deu a sua vida toda a este homem, não casou com outro, nunca aceitou dinheiro deste "porque o amava", ou seja, arriscou tudo por ele.
E, sinceramente, não resisto em transcrever apenas um pouquinho do final, como se um poema fosse, porque se não é, poderia ser...


"Se calhar Tavira já não existe. Nem Sintra. Há quanto tempo isto foi? Terei inventado tudo? Sonhado tudo? Demoro na resposta, mas penso que não..."


(António Lobo Antunes, "Eu Hei-de Amar Uma Pedra", Última Narrativa, 2004)

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Camel & Coca Cola

Estava eu na casa de banho, e tinha-me esquecido de levar um livro para ir lendo já que tenho uma boa desculpa para não estar a fazer nada... então comecei a ver as revistas que estão empilhadas no parapeito da janela. Encontrei uma daquelas das pitas, que pertence á minha irmã mais nova. Abri-a. Encontrei umas entrevistas rápidas com perguntas que eu achei interessantes para uma primeira abordagem. Eu teria preferido a Magazine das Artes, ou a Umbigo, mas quem compra isso sou eu, e tenho tudo arrumado algures no meu quarto, e a minha irmã só compra estas corjas...

Nome: jKAKSDJEJIFJIIDJOEIJRIOWJFJKLÇSLKKSWERTHGTI (Se não conhecem o nome, deviam)
Nasceu... em Braga, num hospital que tem uma Igreja Barroca algures quando os Massive Attack preparavam o primeiro álbum
Signo: Peixes e por acaso sei nadar, ainda que não utilize tal conhecimento no dia-a-dia
Nickname: Molko
Altura: a última vez que me medi tinha 1,77
Prato Favorito: bife com batatas fritas... nisso não sou nada original... ah!!! Também gosto de Lasanha e essas coisas todas que levem massa e queijo...
Cor Favorita: vou ter que responder preto, apesar da minha mãe lutar afincadamente contra isso
Quando era pequeno, lembra-se de... partir o queixo
Cidade onde gostaria de viver... Tavira... mantendo o Porto, claro
Lojas onde gastar dinheiro... (Pergunta estúpida.) Fnac, Levis, a Loja de Serralves
Acessórios que usa todos os dias: as palavras
Um dos prazeres da vida é... pessoal. Sei lá que amigo meu (Ou pior, familiar.) vai ler isto?
Se pudesse ter um superpoder seria... desaparecer por umas horas
A tarefa doméstica que mais detesto... uma por uma, todas elas.
Época preferida do ano... Natal
Palavras/ frases que uso muitas vezes... "Não acho normal", "Ó minha senhora que seca", "Que aparato", "Que postura", "Que situação", "Vai por mim...", "Isso é falso!"
O seu interesse mais recente é... um certo blog
Influencias musicais... é melhor ser sitético: The Gift, Placebo, Muse
Istrumento que aprendeu a tocar: piano
Piores hábitos: andar muito depressa, não arrumar o quarto, dizer coisas que não fazem ninguém mais feliz, nem acrescentam nada, mas fazem alguém sentir-se mal...
Objectivo para o próximo ano: andar mais devagar, arrumar o quarto e deixar de dizer coisas que não fazem ninguém mais feliz, nem acrescentam nada, mas fazem alguém sentir-se mal...
No futuro quer: conseguir achar que estas perguntas fazem um pouco de sentido...
O seu ídolo é... sei lá... depende da área. A Sónia Tavares, o Brian Molko, o Mathhew Bellamy... mudando de registo, a Helena Almeida, o Siza Vieira, o Lloyd Wright... sei lá... já sei: a minha stora de História da Cultura e da Arte. Definitivamente
Lar Doce Lar... é o Porto.
Tatoos... (Que estupidez.) já que ainda não sou maior de idade e o meu pai é conservador, estou á espera dos 18 para fazer uma no alto das costas
Nos pés... All Stars. Vou trocando a cor, para não ser sempre igual...
Cabelo: Tenho uma gedelha indomável, uns caracóis que não compreendo, nem eu, nem nenhum cabeleireiro que se aproxime de mim
Como se Define: com palavras, certamente... talvez com músicas...
Rapaz Ideal: Não sou, não fui, e duvido que alguma vez vá ser. Aliás, tenho a certeza...
Videoclips: Os meus eleitos têm mesmo que ser "11:33" dos The Gift, "The Bitter End" dos Placebo e "Inertia Creeps" dos Massive Attack
Série de TV: Donas de Casa Desesperadas, Sete Palmos de Terra, Senhora Prseidente, Roswell, Três Irmãs, CSI
Filmes: curtas, filmes de terror, filmes daqueles que toda a gente na parvónia me pede para repetir o nome e quando eu introduzo o assunto, eles comentam
"_Coisas demasiado intelectuais para serem boas"
e eu penso
"_Fode-te."
adiante...
Detesta: crianças, animais, hip hop e computadores
Irmãos: se não tivesse uma, não estava a escrever esta treta
O Amor é... boa pergunta. Aposto que a Sarah McLachlan sabe...
Lema de Vida: Para a frente que atrás vem gente... dá jeito pensar assim quando se está a fugir de um assaltante...
Timidez: tenho bastante. Se quiserem comprar, o meu e-mail está no profile, e não paga impostos
Olhos: dois
Perfume: Calvin Klein Crave, uma vez que já usava o Boss In Motion há bastante tempo...
Hobby: escrever coisas em blogs...
Um Defeito: obstinado
Animais Domésticos: um pesadelo
Parte do corpo: é melhor não entrar por aí... bem, talvez as clavículas...
Viagem de Sonho: No outro dia falaram-me das Barbados, mas eu continuo a querer o Japão
Uma Virtude: estoicismo


Camel e Coca Cola. Uma receita para o prazer e não para a felicidade.
Não para o paraíso.
Dizia Sade:

PARADISE
(Sade Adu/ Sade Adu- R St John)

I'd wash the sand off the shore
Give you the world if it was mine
Blow you right to my door
Feels fine

Feels like
You're mine
Feels right
So fine
I'm Yours
You're mine
Like Paradise

I'd give the world if it was mine
Feels fine
Feels like
You're mine
I'm Yours
So fine
Like Paradise

I'd wash the sand off the shore
Give you the world if it was mine
Blow you right to my door
Feels fine

Feels like
You're mine
Feels right
So fine
I'm Yours
You're mine
Like Paradise

Oooh what a life
Oooh what a life
Oooh what a life
Oooh what a life

I wanna share my life
Wanna share my life with you
Wanna share my life
I wanna share my life
Wanna share my life with you
Wanna share my life
Oooh what a life
Like paradise