Nem sempre acontece que uma banda consiga ter um percurso em que a quantidade de trabalhos conhece uma regularidade na qualidade. Em vinte e dois anos os Anathema produziram duas minicassetes, quatro EPs, nove álbuns e dois álbuns de revisitação própria, enquanto várias vezes alteraram a sua constituição e se atravessaram do doom/death-metal para o rock progressivo, progressivamente. Conquistaram um lugar de culto, tendo alguns dos seus álbuns sido aclamados como sendo dos melhores deste último género.
Quando pensamos que tudo isto é feito por uma banda que, mesmo agora, é uma espécie de banda de família (Os irmãos Cavanagh e os irmãos Douglas.) que, de certa forma, vive a dinâmica de garagem eternamente, é difícil não ficarmos impressionados. A grande solução é, ainda e sempre, a música. Os Anathema são uma feliz rara junção de vários cérebros criativos, que têm sabido, da melhor forma, fazer e crescer daquilo que fazem. Em 'We're Here Because We're Here' (De que falei aqui.) álbum lançado em 2010, ficava claro que a atmosfera depressiva estava, talvez, a desaparecer, dando lugar a ambiências mais luminosas, que mesmo assim não deixavam de ser pesadas. O pesado, aqui, significa profundo. É essa a principal característica da música dos Anathema: parece sondar aquilo que de mais íntimo e verdadeiro trazemos em nós, falam directamente ao âmago dos sentimentos, dos conflitos, das esperanças e dos pensamentos. Nunca foram lamechas, mas foram sempre emotivos.
A passagem, em 2011, pelo Vagos Open Air (Falei dela aqui.) só poderia ter corrido melhor se não tivessem acontecido os desastres técnicos que aconteceram. Em vésperas do lançamento de 'Falling Deeper' (Também dele se falou aqui.) que revisitaria a fase inicial da banda, os Anathema traziam na bagagem 'We're Here Because We're Here', bem como uma série de clássicos, que puderam ser apreciados, ainda assim, independentemente das constantes falhas de som. No entanto, dois álbuns volvidos, incluindo um de originais, o mais recente 'Weather Systems' (Estava-se mesmo a ver que falei dele. Aqui.), os fãs portugueses estavam mesmo em necessidade de um concerto dos Anathema. O facto deste decorrer numa sala fechada e intimista como a do Paradise Garage só podia ser uma boa notícia, uma vez que reuniria a banda de uma forma mais próxima com o público e, bem vistas as coisas, também prometia um maior controlo sobre os aspectos técnicos, completamente diferente do que contece num festival.
A primeira parte do concerto ficou entregue aos californianos Astra. Sinceramente, tenho uma relação estranha com primeiras partes de concertos. É verdade que bandas de que gosto já as fizeram, usando-as como forma de divulgar o seu material, mas o facto é que, na maior parte das vezes, a primeira parte é uma parte que ninguém está completamente interessado em ouvir. Os Black Box Revelation começaram por fazer primeiras partes dos dEUS, e no entanto são uma banda perfeitamente apetecível, mas até conquistarem o direito a concerto próprio, é difícil pensar que tenham sido realmente ouvidos. Os próprios Anathema por aí começaram. Mas, pormenores destes àparte, os Astra apresentaram, ao longo de meia hora um interessante conjunto de canções, em que a sonoridade rock se deixava tocar pelo metal e pelo folk, que deixam certamente a vontade de ouvir mais, particularmente Black Chord.
Os Anathema entraram em palco com as duas partes de Untouchable, do álbum mais recente. Numa versão um pouco mais eléctrica do que a de estúdio, a canção brilhou nas suas duas partes, especialmente pela harmonia perfeita entre as vozes de Vincent Cavanagh e de Lee Douglas, que ganha mais destaque na segunda parte da canção. Mas perceber-se-ia logo que seguinda que nem só 'Weather Systems' estava directamente sob o microscópio. De uma assentade, os Anathema tocaram Thin Air, Dreaming Light e Everything, alguns dos pratos-fortes mais luminosos do álbum anterior, que mantiveram a abertura do concerto do lado mais positivo da música dos Anathema, sendo esta última uma boa oportunidade para destacar o trabalho de Daniel Cardoso nos teclados.
Logo a seguir, deu-se uma inversão de atmosfera, com o regresso a 'Judgement', o álbum de 1999, de que se rebuscou, para começar, Deep, uma das canções mais tristes mas mais libertadoras da discografia dos Anathema, e uma das melhores letras de Vincent Cavanagh. Ainda do mesmo álbum, ouviram-se a seguir Emotional Winter e Wings of God, momentos mais calmos, mas bastante mais tristes, que soarem muitíssimo bem antes do regresso a 'We're Here Because We're Here' com A Simple Mistake, onde, além de uma vez mais podermos apreciar a junção das vozes de Vincent e Douglas, contámos com o brilhante solo de guitarra eléctrica de Daniel Cavanagh que termina a canção.
Lee Douglas brilharia ainda, sozinha, a seguir, com Lightning Song, do álbum mais recente, uma canção bela e pesada que o público soube acompanhar devidamente. Esta canção veio confirmar aquilo que já desde há vários anos se pressentia: que Lee Douglas é, de facto, uma mais-valia para os Anathema. Lee haveria de estar presente para The Storm Before the Calm, também do álbum mais recente, uma longa odisseia escrita por John Douglas, o baterista, que dum começo violento chega a momentos de uma beleza contemplativa que em muito representam aquilo que os Anathema estão a fazer agora. Seguiu-se um dos melhores momentos de 'Weather Systems', bem como um dos melhores momentos dos Anathema, The Beginning and The End, uma das canções mais emotivas e mais explosivas de todo o álbum, que resultou muitíssimo bem ao vivo.
Outro regresso a 2010 deu-se com Universal, uma das canções mais orquestrais, mas que não perdeu a sua força na transposição para o palco, bem pelo contrário.
Para o final, os Anathema reservaram três clássicos do álbum de 2003, 'A Natural Disaster': Closer, onde uma vez mais se notou o papel de Daniel Cardoso, A Natural Disaster, outro grande momento de Lee Douglas, e Flying, que termina com mais um esplendoroso solo de guitarra eléctrica de Daniel Cavanagh.
Para os encores, ficaram reservados One Last Goodbye, momento emocional por excelência (Recorde-se que se trata de uma despedida à mãe dos irmãos Cavanagh.) que, efectivamente comoveu e, claro, o clássico Fragile Dreams do álbum 'Alternative 4', que foi um final muito à altura de um concerto realmente perfeito.
Em duas horas, os Anathema conseguiram tocar algumas das suas melhores canções. A violência, a emotividade e a profunda beleza das canções falou por si, e se a sala do Paradise Garage era quase pequena demais para o público, para conter a força da música dos Anathema, não parece haver sala grande o suficiente.
Logo a seguir, deu-se uma inversão de atmosfera, com o regresso a 'Judgement', o álbum de 1999, de que se rebuscou, para começar, Deep, uma das canções mais tristes mas mais libertadoras da discografia dos Anathema, e uma das melhores letras de Vincent Cavanagh. Ainda do mesmo álbum, ouviram-se a seguir Emotional Winter e Wings of God, momentos mais calmos, mas bastante mais tristes, que soarem muitíssimo bem antes do regresso a 'We're Here Because We're Here' com A Simple Mistake, onde, além de uma vez mais podermos apreciar a junção das vozes de Vincent e Douglas, contámos com o brilhante solo de guitarra eléctrica de Daniel Cavanagh que termina a canção.
Lee Douglas brilharia ainda, sozinha, a seguir, com Lightning Song, do álbum mais recente, uma canção bela e pesada que o público soube acompanhar devidamente. Esta canção veio confirmar aquilo que já desde há vários anos se pressentia: que Lee Douglas é, de facto, uma mais-valia para os Anathema. Lee haveria de estar presente para The Storm Before the Calm, também do álbum mais recente, uma longa odisseia escrita por John Douglas, o baterista, que dum começo violento chega a momentos de uma beleza contemplativa que em muito representam aquilo que os Anathema estão a fazer agora. Seguiu-se um dos melhores momentos de 'Weather Systems', bem como um dos melhores momentos dos Anathema, The Beginning and The End, uma das canções mais emotivas e mais explosivas de todo o álbum, que resultou muitíssimo bem ao vivo.
Outro regresso a 2010 deu-se com Universal, uma das canções mais orquestrais, mas que não perdeu a sua força na transposição para o palco, bem pelo contrário.
Para o final, os Anathema reservaram três clássicos do álbum de 2003, 'A Natural Disaster': Closer, onde uma vez mais se notou o papel de Daniel Cardoso, A Natural Disaster, outro grande momento de Lee Douglas, e Flying, que termina com mais um esplendoroso solo de guitarra eléctrica de Daniel Cavanagh.
Para os encores, ficaram reservados One Last Goodbye, momento emocional por excelência (Recorde-se que se trata de uma despedida à mãe dos irmãos Cavanagh.) que, efectivamente comoveu e, claro, o clássico Fragile Dreams do álbum 'Alternative 4', que foi um final muito à altura de um concerto realmente perfeito.
Em duas horas, os Anathema conseguiram tocar algumas das suas melhores canções. A violência, a emotividade e a profunda beleza das canções falou por si, e se a sala do Paradise Garage era quase pequena demais para o público, para conter a força da música dos Anathema, não parece haver sala grande o suficiente.
Untouchable part1/ Untouchable part2/ Thin Air
Dreaming Light
Everything/ Deep
Emotional Winter/ Wings of God
A Simple Mistake/ Lightning Song
The Storm Before the Calm (fragmento1)
The Storm Before the Calm (fragmento2)
The Beginning and the End/ Universal/ Closer
´
A Natural Disaster
Flying
One Last Goodbye
Fragile Dreams
4 comentários:
Finalmente pude assistir a um concerto dos Anathema, algo que já aguardava há alguns anos. 2 horas pareceram-me 2 minutos. Sem palavras a qualidade, em letras e musica...Espero voltar a vê-los sempre que voltem ao nosso país.
Cara Sara,
subscrevo, mesmo!
Talvez para a próxima tenhamos sorte, e sejam mais de duas horas.
Muito obrigado!
Eis que a dupla dos irmãos cavanagh voltam dia 12 de fevereiro, desta vez ao music box. Eu já tenho o bilhete para mais uns minutos de arrepiar :D
Isso sim, são boas notícias. E cá vou eu comprar o bilhete também, se ainda for a tempo...
Enviar um comentário