Não sou nenhum oceano,
não venho para te afogar.
O sol esvai-se em vento.
A areia caminha sem praia
e cada grão se faz lua
na tua cara que me olha e me busca,
demasiado nua.
Eu sou o trilho por onde sulcas.
Eu não sou nada que não esperasses.
Tudo o que a tua mão te estende,
estava escrito na tua endoderme,
no calor das tuas pernas,
nos passos infatigáveis
dos teus segundos fátuos.
Não trago nada.
Sou só água.
Venho para te afogar.
Manuel Cintra
Não Sei Nunca Por Onde
2004, ed. Quasi
fotografia de Slava Mogutin
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