Quando o meu tumulto recrudesce
(tempestade de água num copo)
o meu interior tumulto,
de que me escapa a profunda causa...
Quando falo
e as minhas próprias palavras,
por inúteis,
me espantam e me cansam...
Quando a moral dos outros
me traça à frente
o ridículo sulco dos limites...
Deponho as minhas armas boas ou fracas e rio.
Rio com amargor
e como o vento torço o rumo.
Limites...
Para o coração que tumultua, bofetada.
Para a livre imaginação, queda
Cinza,
cinza atirada àquele quê,
àquele quê nada expansivo e imenso,
ardente e infinito
de um pobre espírito.
Como o vento torço o meu rumo gritando:
Ó lar, ó lar das minhas esperanças!
Ó acolhida dos sem pátria e sem destino!
Risco baço dos meus limites, galguei-te.
Sim, galguei-te.
E perco-me no meu corcel de vento,
infeliz e irritada.
Mas para calar toda esta ansiedade
e, ai!
abafar o meu desprazer,
só alcançando as estrelas,
ultrapassando-as
e desaparecer...
Meu coração inchado rebenta, rebenta!
E tu gasta-te, saudade,
desejo, desespero, paixão do que sonhei
e sempre tive de perder.
Irene Lisboa
in «Seara Nova», 1939
imagem de Miguel Leal
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