ANTES DE PARTIR
Sob o último céu que vejo
daqui
espero as luzes da rua.
As casas enterram-se no
chão
até serem uma mancha na
retina.
Estou preso à estrada,
a fundir-me no alcatrão.
Aprendi o nome das ruas,
fixei
algumas árvores,
deixei-me pertencer a este
lugar,
adiei a partida.
Nesta última noite chove,
ainda
é verão. Parece-me que
estou menos só,
como se a noite reagisse à
tristeza
e chorasse também.
No meu choro tento
memorizar
certos detalhes, uma cor,
um resto
Devia pensar que partir
será
chegar a outro sítio. Mas
a ausência
e a última visão da minha
casa dá lugar só às
trevas.
[João Borges: Porto, Julho 2009]
imagem de Helena Almeida
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