sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

[Anoitece em inferno a minha casa.]


Anoitece em inferno a minha casa.
Fico com este começo de verso
a serenar a exaltação de não dizer nada.
Deixem-me com este sorriso a morrer
por uma sílaba mais real onde um verso
me sossegue
com unhas de lama e sangue,
como garras.
Anoitece em inferno a minha casa.
Fica a certeza de não ter fim o que
de inutilidades se basta,
ou apenas o instante em que,
por um verso, eu fui
à outra parte da casa.

Helga Moreira
Os Dias Todos Assim
1996, ed. &etc
pintura de Luis Caballero

Sem comentários: