Actualmente é difícil encontrar um filme que nos faça realmente parar para pensarmos sobre ele, e mais raro ainda é aquele que, mesmo assim, em muito continua a ser ilegível. Isto se não se está a falar dos filmes do mestre David Lynch. Depois do brutal "Mulholland Drive" de 2001, as mulheres voltam a estar no centro de um mistério indecifrável em "INLAND EMPIRE".
Até aqui, é tudo o habitual nos filmes de David Lynch (Entenda-se os filmes de David Lych como "Estrada Perdida", "Blue Velvet" ou "Firewalk With Me".). Mas em "INLAND EMPIRE", que chega a público cinco longos anos depois de "Mulholland Drive", há algo de novo, de deliciosamente novo: filmadas com uma câmara digital de baixa definição, por vezes a preto e branco, as imagens parecem saídas da cabeça de Lynch sem qualquer tratamento. Por vezes a imagem é suja, escura e granulada, há elementos que parecem impossíveis de ligar com o resto do filme, mas a verdade é que tudo isto é uma realidade distorcida e deturpada, que somos priviligiados em poder ver; desde o sitcom da família de homens-coelho á rapariga perdida que a este assiste, ao ar desorientado de Laura Dern, aos alucinantes sem-abrigo.
Mas vamos por parteS. O filme centra-se (Mas não se limita.) na personagem de Laura Dern, uma actriz, Nikki, que recebe a visita de uma sinistra nova vizinha que, sem o mínimo propósito, lhe conta dois contos tradicionais polacos sobre o nascimento do mal. Além disso, ela parece saber muito sobre o filme para o qual já sabe que Nikki será escolhida para protagonizar no dia seguinte. É neste contexto que surgem, Devon (Justin Theroux) e Kingsley (Jeremy Irons), respectivamente o co-protagonista e o realizador de "On High On Blue Tomorrows". Na sequencia de um pequeno incidente, o realizador revela aos seus protagonistas que, na verdade, o filme que se preparam para fazer é na realidade um remake de um filme alemão sobre um conto polaco que nunca chegou a ser concluido, devido ao homicídio dos dois protagonistas.
É nisto que, de repente, Nikki se encontra a viver simultâneamente a sua vida, a de Sue, a sua personagem e a da actriz que interpretara Sue na pirmeira versao do filme.
Ao mesmo tempo, há uma mulher que garante á polícia que foi hipnotizada para matar uma pessoa, que não sabe quem é, mas reconhecerá quando a vir.
Todas as estas histórias se cruzarão, depois de Nikki acender um cigarro e fizer um furo no veludo e vê...
"INLAND EMPIRE" não é um filme a ser visto com um balde de pipocas numa mão e uma lata de Coca-Cola na outra. É, na realidade um filme para ser visto com muita, muita atenção, e várias vezes. É, também um dos melhores filmes de David Lynch. Pode ser imperceptível, mas, vendo pelos olhos de Lynch, é um filme realista. Se imaginarmos que tudo se passa dentro da cabeça de Nikki Grace, tudo faz sentido. O estado quase catatónico de confusão em que a actriz se encontra, as situações, cada vez mais surreais, a que é exposta, e a originalidade de todas as sequencias, faz deste filme imperdível... para todos mesmo...
Nota: 20/20
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