O MAL ENTENDIDO
Vasculhando os livros de arte na Fnac, descobri uma peça imprescindível, que não podia deixar de ter: um livro com imagens (E não só.) do filme de Matthew Barney "Drawing Restraint 9". Não vi (Ainda.) o filme, e (Ainda.) não sei como o vou ver, mas sei que vou. Serve isto de introdução para o comentário ao álbum da banda sonora, composta pela mulher do realizador, a não menos invulgar Björk, de quem eu tanto gosto. Quando comprei "The Music From Drawing Restraint 9", em Agosto de 2005, sabia muito pouco sobre o seu contexto. O que li, depois, em termos de críticas, não foi bom. No Blitz ainda admitiam a hipótese da música nos soar de uma outra forma após termos apreciado o filme, mas, por exemplo, na Magazine das Artes, chamaram-lhe um naufrágio. Escrevo, mais de um ano depois, para contrapor tudo isto.
Diga-se de passagem que não é fácil gostar deste álbum da pequena islandesa mais famosa do mundo. "Drawing Restraint 9" é feito de sons estranhos, aguçados e por vezes quase hostis. Mas, na sua essência o álbum é bom.
Mas bom não quer dizer perfeito, e esta banda sonora tem vários erros: é muito dispersa, de maneira que o disco em si não é uma obra, mas 11, cada faixa é individual e não encaixa nem na anterior nem na seguinte (Com excepção de Hunter Vessel e Vessel Shimenawa, em que o segundo é quase uma continuação do primeiro, ou de Shimenawa e Antarctic Return, idem aspas.), algumas faixas têm menos do que se anuncia ( Onde se ouve a harpa de Shimenawa?), e outras contêm, de facto, menos do que seria de esperar (Holographic Entrypoint quase á capella pedia por um outro fundo instrumental.), e, quando se acaba de ouvir o álbum fica uma pouco agradável sensação de que há uma predisposição para colar nestas canções conceitos de álbuns passados de Bjork: o caso da importação de Tanya Tagaq de "Medúlla" para o tema "Pearl", do som de "Frosti" do álbum "Vespertine" para "Cetácea", etc.
Mas não é só de manchas que é feito "Drawing Restraint 9": "Gratitude" com a voz de Will Oldham enrolada na harpa de Zeena Parkins não podia ser um melhor início, os estados de espírito misturam-se, faixa a faixa, a sonolência de "Bath", a isaltação de "Hunter Vessel", o dramatismo de "Storm" ou a felicidade de "Cetácea". A nível das composições, elas são simples, melodiosas, gravadas e arranjadas de maneiras pouco óbvias, com bastante energia, e principalmente, um perfeccionismo pouco exagerado.
"Drawing Restraint 9" é incapaz de fazer sombra a "Debut" ou "Homogenic", os seus sons não conseguem ser tão celestiais como em "Vespertine", não há nem réstias da agressividade de "Post", nem da soltura de "Gling Glo", nem da sobriedade de "Medulla", mas a banda sonora deste filme de Matthew Barney está bem longe de ser um mau disco, bem pelo contrário. Só não deixa um caminho muito óbvio pela frente. E depois???
(Uma nota muito positiva também para a direcçã0 de arte, uma das melhores de todos os álbuns de Bjork.)
Veredicto final: 16/20
DO FILME:
Uma Cena de Dança/ Marcha: aqui A Cena do banho/ Videoclip de "Bath": aqui A abertura/ video para "Gratitude": aqui