Não sou uma metáfora
de silêncio
mas sim a voz do nosso encontro:
o falo
impiedoso
cujo timbre,
como o de todos os mansos,
quase todos os ternos,
me excita
até ao crime.
Talvez esteja aí a tua submissão e o meu
despotismo,
escrita minha!
Não nos censuro.
Pelo contrário, acho que nos completamos.
Belo encontro!
Belo encontro! _ O magnetismo,
a pele, o meu gingar
de marinheiro e caravela masculina
e a tua vulva cega
e discursiva!
Onde aprendi as calças metálicas,
justas nas coxas,
os seios cortantes?
Pois. Num verso. Numa métrica sem rima.
Porquê, então, o espanto?
Todos os poetas são radicais e orgânicos,
sobretudo se interessados
no sexo.
Por isso não te quero obediente,
meiga
e desvitalizada,
tagarela
e insípida,
folheando uma revista inócua
e não te passando sequer pela cabeça o não seres
capaz de tomar uma resolução importante,
tal como a de, por exemplo, mudar uma torneira
ou viajar sozinha em busca
de um harém
suave.
Porque deveria, então, sentir-me
desapontada contigo?
Somos tão parecidos! _ dizes.
Claro: o mesmo arrojo, o mesmo minucioso
cuidado no penetrar
e sem traição
e sem perfídia,
a portuguesa
língua.
Eduarda Chiote
Não me morras
2004, ed. &etc
imagem: Marlene Dumas
Sem comentários:
Enviar um comentário