Passo num gesto que eu sei
Deste mundo agoniado para o espaço
Onde sou quanto serei
No tempo que sobra escasso
No outro mundo sou rei
E o meu rosto de cristal e puro aço
É o espelho que forjei
Com suor pena e cansaço
E se o mundo que deixei
Tem as marcas desenhadas do meu passo
São baralhas que enredei
São teias e vidro baço
Tantas provas cá terei
Tantas vezes do pescoço solto o laço
Se me sangraram em rei
Aceitem a lei que eu faço
Vem a ser que o homem novo
Está na verdade que movo
José Saramago
Provavelmente Alegria
4a edição, Caminho, 1998
imagem de Miguel Leal
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