O SALTO
O último álbum de Dido chegou-nos há cinco anos atrás e, como já tinha dito há uns tempos atrás aqui, não nos trazia novidade que valesse a pena assinalar. 'Safe Trip Home' parecia ceder perante a pressão deixada pelos marcantes 'No Angel' (1999) e 'Life for Rent' (2003), e a se a voz costuma ser um dos principais pontos de vantagem para Dido, no seu terceiro álbum, era praticamente o único aspecto que valia a pena reter.
O último álbum de Dido chegou-nos há cinco anos atrás e, como já tinha dito há uns tempos atrás aqui, não nos trazia novidade que valesse a pena assinalar. 'Safe Trip Home' parecia ceder perante a pressão deixada pelos marcantes 'No Angel' (1999) e 'Life for Rent' (2003), e a se a voz costuma ser um dos principais pontos de vantagem para Dido, no seu terceiro álbum, era praticamente o único aspecto que valia a pena reter.
Há pouco mais de um mês, Dido editou o seu quarto álbum. E, mal se ouve No Freedom, a primeira faixa e primeiro single de 'Girl Who Got Away', fica-se com um certo medo de que este álbum sofra das mesmas fragilidades que o anterior. Esta canção mantém-se no registo sereno e harmonioso de Dido, com uma letra sobre a necessidade de amar; uma canção interessante mas que nada acrescentaria a momentos do passado como Here With Me ou Life for Rent. Mas a canção seguinte, Girl who got Away, já nos desengana. Aquilo que encontramos desta canção em diante condiz muitíssimo bem com a capa do álbum. Nele, Dido, vestida discretamente de preto, atravessa uma estrada onde brilham muitas luzes de carros. De facto, a sua música continua simples e serena, mas traz agora uma roupagem muitíssimo mais urbana, desliga-se um pouco das raízes clássicas e assume uma electrónica sóbria, a juntar ritmos envolventes que piscam levemente o olho ao hip-hop e a letras de uma escrita directa e bela; tudo isto aliado à voz que é aquela que já conhecemos: suave mas pesada, muito à vontade nestas canções, quase todas com um certo pendor melancólico e profundo. Exemplo perfeito disto é Let us Move On, em que participa o rapper Kendrik Lamar. Mesmo no seu tom saudoso, esta canção nunca se torna excessiva, o próprio rap é tudo menos aquilo que esperaríamos da participação de um rapper numa canção destas. Acaba por ser provavelmente o momento mais bem conseguido de 'Girl Who Got Away'.
Outras canções ainda recuperam esta atmosfera, de formas mais ritmadas ou melancólicas. Blackbird ou Day Before we Went to War, por exemplo, exploram o lado mais dramático que existe no reportório de Dido desde o princípio (Recordemos que, dos seus clássicos, muitos são canções tristes.), enquanto Go Dreaming e Sitting on the Roof of the World se mantém de um lado mais optimista, que também não soa mal _bem pelo contrário, apresenta-nos a Dido que conhecemos de Don't Leave Home ou Thank You, também elas dignas do estatuto de 'clássicos' da cantora britânica.
Outras canções ainda recuperam esta atmosfera, de formas mais ritmadas ou melancólicas. Blackbird ou Day Before we Went to War, por exemplo, exploram o lado mais dramático que existe no reportório de Dido desde o princípio (Recordemos que, dos seus clássicos, muitos são canções tristes.), enquanto Go Dreaming e Sitting on the Roof of the World se mantém de um lado mais optimista, que também não soa mal _bem pelo contrário, apresenta-nos a Dido que conhecemos de Don't Leave Home ou Thank You, também elas dignas do estatuto de 'clássicos' da cantora britânica.
Apesar de se manter de um lado muito calmo e suave da pop, 'Girl Who Got Away' é verdadeiramente o álbum que esperaríamos de Dido depois de 'Life for Rent'. Dido não é uma cantora que precisa de reinvenções nem de muita produção, mas qualquer músico, pop ou não, precisa de evoluir, e é neste álbum que Dido dá o tão esperado salto, e apresenta-nos a primeira grande colecção de canções desde 2003.